Eu sou melancolia, sensualidade e timidez


O livro Eu sou melancolia, sensualidade e timidez é um livro que já queria ler faz muito tempo, coloquei como um dos itens do desafio Lendo Mais Mulheres 2019 e me deu o impulso para comprar o livro de uma escritora independente, que ainda hoje vende seus livros que foram feitos a mão por apenas 10 reais.

Gosto do livro pela história da escritora, e também por me identificar com muitas das suas vivências relatadas em sua poesia, em cada linha escrita. Deise Oliveira faz aquele tipo de poesia que sou encantada, nada formal, nada padronizada, é aquela poesia que não segue regras, mas é a poesia que precisa ser dita em quantas linhas for necessária, é aquela poesia que parece mais uma conversa de duas amigas, talvez não seja aquela poesia pra ser declamada em slam ou sarau, porque é aquela poesia de sussurro, de confidencia, de confiança. Então eu leitora fico contente por estar no rol das pessoas que a escritora compartilha os seus escritos, a sua vida, a sua dor, o seu renascimento.

O livro a meu ver segue uma sequência muito interessante, ela nos mostra da sua paixão, a desilusão, a sua morte, como lidou com ela, como se encontrou e ressurgiu, aprendendo com o que passou e decidida a não sofrer mais, porém isso não significa que não irá sofrer mais, pois não será hoje e nem amanhã que “a tigresa possa mais que o leão”, mas com Deise Oliveira descobrimos que apesar de toda a dor, nós conseguimos prosseguir.

Por vezes eu parava a leitura do livro porque batia aquela bad sabe (!?) daquele relacionamento que foi vivido, aquela cilada que você pensava que era amor (estou bem musicista rsrsrs), aquele cara ou aquela garota que você pensou que estaria ainda hoje com você, mas hoje ele ou ela agora está bem longe, ou porque eles decidiram partir ou porque você percebeu que estava sendo algo destrutivo para você e você mesma mandou embora apesar de ter sido a decisão mais dolorosa da sua vida.

E SIM meus caros e caras, nós sobrevivemos, nós conseguimos continuar caminhando, seguindo a nossa vida. Por um período pode ser muito doloroso, para nós mulheres negras é bem mais do que um relacionamento que não deu certo, é a tão falada solidão da mulher negra, e volto a falar aqui mais uma vez, essa solidão não é apenas sobre relacionamento amoroso, é sobre ser sozinha, estar sozinha no que se refere a amizade, família, trabalho, nos estudos.

Deise Oliveira nos mostra que não precisamos fugir do que sentimos, passar por momentos tristes não é algo anormal, aqui eu falo como profissional de saúde, existe um processo de medicalização da saúde, funciona assim: não nos deixam mais sentir dor alguma que logo prescrevem algum medicamento e nos rotulam com inúmeros diagnósticos, por exemplo, quando alguém da família, ou uma pessoa muita querida morre é normal sentir tristeza pelo tempo que for necessário para que você se recupere, com isso não estou dizendo que não existe depressão, existe sim, mas não podemos ser levados por essa onda de medicalização patrocinada pela indústria farmacêutica e o biopoder médico.

A escritora vai nos mostrando também como a poesia conseguiu sustentá-la nos seus piores momentos e como esta é essencial para a sua vida, e que bom viu porque com esta mesma poesia muitas mulheres podem ser alcançadas e ajudadas a seguir as suas vidas. Esse é o diálogo que nós profissionais da saúde dizemos que precisa sair do apenas ‘setembro amarelo’, que precisamos falar durante todo o ano e de forma responsável.  

Obrigada Deise, obrigada pelo título, pela cor do livro, pelas várias fontes nas letras que colore e dão ênfase as poesias, desejo que você continue garota, que continue sendo poesia.

Poesia do livro:

“Me Surpreendo comigo mesma, com a força que brada em meu peito a cada deboche, com a coragem que ganho a cada subestimação. A cada dia também, tenho tido mais consciência da minha loucura e do quanto tenho prazer em viver essa insanidade poética”

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