Negritude Usos e sentidos


Negritude foi o primeiro livro que li de Kabengele Munanga, porém já tinha tido a oportunidade de ler os seus escritos em artigos e resenhas feitas pelo próprio. Munanga é um teórico que tenho a maior reverência, assim como Abdias Nascimento, Lélia Gonzalez, Beatriz Nascimento. São teóricos negros brasileiros que infelizmente estão no esquecimento, mas graças ao trabalho de pessoas como Nilma Lino Gomes estão sendo resgatados e apresentados a nova geração de brasileiros.  

Inicialmente Munanga demonstra como o povo negro é diverso, aqui já reduz a nada o mito de que somos todos iguais e de que todo preto se parece. Pessoas negras que estão em religiões de matriz africana tem uma vivência de negritude diferente dos negros em religiões ocidentais europeias, mesmo que ambos tenham noção de que são negros e tenham orgulho disso.

Então, ele classifica 3 fatores: o fator histórico, o fator linguístico, o fator psicológico. Foi nesses fatores que a branquitude intensificou a opressão fazendo com que os negros africanos trazidos para as Américas no período escravocrata tivessem sua identidade destruída, e é nesses fatores que precisamos hoje em dia focar para restituir a nossa identidade e fortalecer a negritude.

Outro dilema posto pelos movimentos sociais e que Munanga destrincha no livro é a ideia de que a luta de classe é mais importante que a luta de raça e que se obter êxito na luta de classe resolverá o problema da luta racial, não é bem assim, entendemos que os que estão na classe trabalhadora - operária são os negros, porém resolvendo a distribuição de renda e de terra no país ainda não resolverá a problemática do racismo, o negro rico, classe média ou burguês, mesmo tendo condições socioeconômica favoráveis ainda sofre a discriminação racial.

A luta precisa ser conjunta, nenhuma sobrepondo a outra, é preciso restituir a identidade cultural, fortalecer a negritude dos negros no Brasil e também modificar o cenário socioeconômico. Isso porque é impossível que o negro lute por uma demanda de classe sem estar convicto de sua verdadeira história, sem saber que descende de reis e rainha e não de negros escravizados, é preciso curar a nossa herança e assim lutar por outas demandas dos grupos minoritários.

Além de discorrer sobre essas questões especificas ao povo preto, Munanga fala sobre os mitos que a branquitude utilizou para basear a ação escravocrata, eles utilizaram principalmente da ciência (medicina) e a religião (católica):

“Numa época em que a ciência se tornava um verdadeiro objeto de culto, a teorização da inferioridade racial ajudou a esconder os objetivos econômicos e imperialistas da empresa colônia.” (p. 30)
“A implantação europeia, como já foi dito, efetuou-se no plano psicológico, utilizando, entre outros recursos, a conversão do negro ao cristianismo. A evangelização prestou grandes serviços à colonização.” (p. 33)

Sendo assim, infelizmente, muitos negros tem uma enorme dificuldade de se reconhecerem e ter orgulho de ser negro devido a alienação e assimilação cultural. E isso em todos os países que tiveram o período escravocrata, desta forma apesar das diferenças geográficas é fácil do negro aqui no Brasil se sentir contemplado pela fala de negros nos EUA, ou de algum país da América Latina, por isso a luta muitas das vezes são semelhantes, nos mostrando que viemos todos do mesmo Continente e que temos os ancestrais a conectar os negros da diáspora.

Por fim, Munanga como um bom teórico, mostra algumas críticas que o conceito da Negritude teve, e nos leva a verificar o lado positivo e negativo, percebendo que nossa luta continua sendo necessária, mas que sempre precisamos estar em constante vigilância para avaliarmos as nossas condutas, vendo se realmente estão sendo benéficas para o povo preto.

No final do livro a editora autêntica apresenta outros títulos da Coleção Cultura Negra e Identidades, essa é uma parte importantíssima para nós povo preto, lermos os nossos teóricos cada vez mais, nos fortalecendo de saberes para um enfrentamento real e eficaz, conheçam a Coleção que a editora tem e sejam felizes com cada leitura.

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