Cadernos Negros Poemas Afro-Brasileiros Volume 27
“ Há 27 anos acompanho os Cadernos Negros.
Foi a concretização de um sonho de muito tempo e o surgimento de uma nova era
de escritores negros com coragem para ir adiante, e foram...
Foi necessária muita garra para que
autores negros pudessem ter seu espaço dentro da literatura brasileira por meio
de seu por meio de seu próprio esforço. Quantos poetas e contistas negros
receberam o devido reconhecimento do mundo literário, como escritores, através dos
Cadernos Negros! De outra forma, talvez, nunca teriam essa chance” (Vanderli
Salatiel – Sinopse do livro)
A sensação que tive ao ler cada poesia
deste volume 27 foi que tod@s @s escritor@s me diziam “Menina olhe pra trás,
olhe pra trás!”, mas era um olhar pra trás de modo que eu pudesse reconhecer os
meus ancestrais, os que vieram antes, os que deixaram sua revolução marcada na
história e que hoje nos são os exemplos, era um olhar pra trás para que eu
pudesse me reconhecer nas mulheres e homens que construíram o caminho que tenho
percorrido.
Dois poemas falaram do mesmo homem negros
e isto me chamou a atenção além de ter ficado muito feliz com os poemas, eram
poemas que falavam de João Cândido, minha felicidade se explica por reconhecer
a tamanha importância de valorizar os nossos ancestrais da nossa terra, vejo
referenciarem sempre Malcon X, Math Luther King, homens que precisam sim ser
referenciados, mas não apenas estes, infelizmente esquecemos dos homens, e nem
vou comentar sobre as mulheres não é mesmo?!, que lutaram em nosso país como o próprio
João Candido, Besouro e tantos outros.
Recentemente estive no Rio de Janeiro para
participar de um congresso e visitando o Museu da República me surpreendi ao
encontrar uma foto de João Candido (vou colocar no final), a minha surpresa foi
por não ver ser dado o devido respeito, humanidade e reconhecimento ao povo
negro, e por ter nesse espaço uma parte que reconhece e faz lembrar este líder
negro, isso é de grande importância.
João Cândido
(Décio de Oliveira Vieira)
Prisioneiro da pele, o dragão singrou
Os mares da ignorância e do preconceito
A bordo da armada
Uma multidão de passos tristes
Aguarda.
João! Aponta teus canhões pra nossa dor
E desfaz o medo do povo Banto
A uma ordem tua
A chibata cessará seu canto.
Até quando esse povo guerreiro dormirá?
Até quando essa gente escura
De sua imponderável força
Prisioneira será?
Se difícil é humano ser,
Mais difícil é ser negro humano.
Preparemos a trincheira da resistência
com o nosso intelecto,
pois a próxima batalha será na consciência.
Até vergonha de África nos fizeram ter
melhor seria, como no argênteo país,
se deixar abater.
Porém, das cinzas do preconceito, ressurge
A fênix negra, mirando seus canhões
exigindo respeito.
Este poema em especifico pontua um debate
que é mais que necessário de ser feito no nosso meio, sobre a revolução não começar
nas nossas atitudes e posicionamentos, mas sim nas nossas mentes, começar quando
tomamos consciência de ser negros, quando nos percebemos negros brasileiros que
possuem uma ancestralidade que vem da África, que nossas raízes estão lá. Este
assunto me faz lembrar muito de Franz Fanon e sua obra falando sobre o negro
conseguir reconhecer que é negro e de onde vem a sua negritude. A partir de
qual conceito de negro nos reconhecemos? Do conceito que o branco criou para
nos manter em servidão ou do conceito que nós fomos obrigados a criar para
combater e tentarmos sermos no mínimo humanos?
O Almirante negro
(Edson Robson Alves dos Santos)
Nailha das cobras prenderam o negro
Que nas aguas da Guanabara
Fez Hermes tremer de medo
Uniforme branco, rasgado pelo tempo
No pescoço, de seda, vermelho lenço
Apito velho, nova espada
O destacado almirante
Comanda a sublevada esquadra
Ao rufar tambores durante a noite
O gemido de Marcelino Rodrigues Menezes
ecoou
A carne retalha pelo açoite ao vento
Foi estopim a noite inteira aceso
Contra os maus tratos oficiais
Explodiu de manhã o nobre negro
Prendeu ratos brancos nos porões
Apontou poderosos canhões
Amedrontou a toda a cidade
Ou sublevados presos no Satélite
Morreram de forma cruel
Com seus pulmões por cal comidos
Mas mesmo na subterrânea cela
Permaneceram fieis à luta
Dos dezoito, dezesseis se foram
João Cândido a Pau de Lira ficaram
E coo dizem Aldir Blanc e João Bosco em
sua lira:
“Mas salve
O navegante negro
Que tem por monumento
As pedras pisadas do cais
Mas faz muito tempo...”
Aqui termino dizendo que mais uma vez CN me fez muito
feliz e grata por ler sobre João Cândido e os outros vários poemas que são como
acalento para nosso espirito ♥
Retomo a leitura de Cadernos Negros Vinte e Sete para evocar registros e se dele participo, tenho raízes que sonham ser frutos. De Cândido tenho nomes e segundos nomes na família de meu pai.
ResponderExcluirA história do Almirante Cândido porém é grandiosa e os poemas apontam direções para onde devemos seguir, de que lado nasce o sol, de onde vem o vento, informações necessárias num mar incerto ou tenebroso. Escrever é descortinar a linha do mar. Ler é remar! Salve!