Conversas que tive comigo - Nelson Mandela
Conversas que tive comigo presta ao mundo
um grande serviço ao nos dar essa imagem de Mandela, o homem. Ao nos oferecer
seus diários, cartas, discursos, entrevistas e outros documentos no curso de
muitas décadas, nos dá um vislumbre da vida que Nelson Mandela viveu, desde as
rotinas prosaicas que ajudavam a passar o tempo na prisão até as decisões que
tomou como presidente. Aqui, o vemos como acadêmico e político, como homem de
família e amigo, como líder visionário e pragmático. Mandela intitulou sua
autobiografia Longo caminho para a liberdade. Agora este livro nos leva a
recriar os vários passos, bem como os desvios, dados nesse caminho (Barack
Obama - Prefácio)
Nessa resenha não vou me prender a falar
sobre o Nelson Mandela que todo mundo já conhece, pretendo falar sobre o que me
surpreendeu e acredito que também vai surpreender vocês, depois de tanto ouvir
falar, fazer trabalhos pra escola, assistir os filmes, conhecer um outro lado
desse ícone foi algo muito fantástico.
Mandela vem da área rural e durante toda
sua vida ele não esqueceu de onde veio, sempre se reportou ao seu início como
sendo de enorme importância para a constituição do homem que tinha se tornado.
Relata também como existiu pra ele o choque entre a cultura ocidental e a
cultura africana de uma cidadezinha interiorana. Ele faz críticas ao modo da
cultura ocidental e como ela se instalou no território africano, contudo ele
menciona que se adequou muito bem, mas jamais sendo pertencente desta cultura
apenas um usuário para poder alcançar os seus próprios objetivos.
Mandela nos conta sobre uma das suas
ilusões, no período da faculdade ele imaginava que ao voltar para sua cidade
seria considerado intelectual e estaria na liderança, porém o caminho que ele
tomou em sua vida mostrou-se ser completamente diferente, ele reconhece que em
sua vida de militante e política, os seus conhecimentos acadêmicos não serviam
muito, aliás só serviam mesmo para os que fossem continuar na própria área
acadêmica, mas lidando com os problemas reais era preciso bem mais que os
conhecimento que uma faculdade pode oferecer.
Também faz uma verdadeira e maravilhosa
crítica ao modelo de educação do ensino superior que não contribui para
despertar a consciência crítica do estudante, e nem leva em conta os problemas
e lutas das minorias, ele cita especificamente que os seus professores nunca
abordaram sobre a situação do povo negro. Cá entre nós com quem isso não
acontece? Se você teve ou tem algum
professor que possibilita um debate racial em sua disciplina você é uma exceção
e aproveite bastante. Ele conclui dizendo que teve que procurar tudo sozinho,
me identifiquei bastante, porque tive muita ajuda de mulheres maravilhosa, mas
a minha base busquei sozinha, lendo, assistindo, prestando atenção, ouvindo e
refletindo.
Sobre a parte que descreve o período que
ele passa na prisão o mais importante pra mim foram as referências a Winnie
Mandela, tem cartas muito amorosas de Mandela para Winnie, e também ele
contando sobre a militância dela para as suas filhas, durante esse período que
Mandela esteve preso Winnie também ficou presa por um momento, sendo assim as
suas filhas ficaram com ambos os pais presos, e ele teve o cuidado de escrever
cartas para suas filhas falando sobre essa situação e exaltando a importância
da luta de Winnie.
Sabemos como o nome de Winnie Mandela é
apagado da história, lembram apenas de Mandela, dentro da família também não
deveria ser tão diferente, as meninas eram crianças e deve ter sido muito
doloroso estar longe de seus pais e ainda sabendo que estão presos, sendo assim
a carta de Mandela (que não foi enviada, assim como muitas outras escritas
dentro da prisão) se fazia de extrema importância para tentar reconstruir laços
que o apartheid estava quebrando.
Outro momento marcante é quando Mandela
ocupa a presidência, inicialmente ele menciona que não queria este cargo, mas
os seus companheiros o fizeram mudar de ideia, comenta que por tantas coisas a
cumprir estava deixando de lado as leituras, a escrita das cartas algo que fez
bastante enquanto estava preso.
Ele expõe lindamente, como foi para ele e
para todos que estiveram presos, que sofrem duramente com o apartheid, perdendo
amigos, familiares e a liberdade, para mim ficou muito mais parecendo uma
poesia, tocou tanto em minha alma, principalmente pelo momento que vivemos
nesse segundo turno que publiquei instantaneamente no face e no insta.
É impressionante como Mandela fala sobre a
posição que a religião foi coloca para que as atitudes feitas no apartheid
fosse algo bem visto e considerado sagrado, sempre usaram o nome e ensinamentos
de Deus para legitimar toda atrocidade, exclusão e morte das minorias. Isso se
repete tantas vezes, não está sendo diferente agora nessa eleição, e tudo isso
é reforçado pelo sucateamento da educação que precisa deixar o povo alienado,
sem saber da história, sem se conhecer para que possam ser manipulados, massa
de manobra de qualquer pessoa que use a bíblia ao seu bem favor.
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