Insubmissas lágrimas de mulheres


Insubmissas lágrimas de mulheres foi o quarto livro que li de Conceição Evaristo, como sempre terminei muito rápido, li em dois dias, não sei o que acontece, Conceição escreve de um jeito que prende completamente, não importa mais nada da vida, apenas terminar a leitura do livro, e quando acaba tem aquela sensação e tristeza e de quero mais, então nos deixa loucos para querer conseguir ler o próximo livro.

Mais uma vez Conceição trouxe a tona toda a questão e subjetividade do nome, eu sempre lembro de Lélia Gonzalez nesse quesito quando ela disse “negro tem que ter nome e sobrenome, senão os brancos arranjam um apelido qualquer ... ao gosto deles”, esse significado do nome esteve muito forte no livro Ponciá Vivêncio, mas dessa vez Conceição foi além, escreveu de forma muito enegrecida e explicita as escrevivências que cada nome carrega, aquilo que se mostra para todos e também o que se mostra apenas para pessoas intimas, ela nos mostrou todos esses detalhes.

Algo que achei engraçado é que sempre falava Insubmissas lágrimas de mulheres negras, com o livro percebi que falava errado, não existe no título essa parte - negras, mas com a leitura percebo que todas as mulheres são negras, todas, se alguém pensou diferente não discordo, mas peço que faça o exercício de reler cada história com maior atenção e perceberá que elas são negras, não sei porque não tem o negras no título, isso foi algo que me chamou a atenção, se alguém tiver essa resposta vou adorar saber.

No livro temos 13 histórias, 13 mulheres negras, por mais que as vezes uma história lembre a história de outras, todas elas são diferentes, cada mulher com suas vivências, essa é uma das belezas de Conceição, ela mostra pro mundo que somos DIVERSAS, na mídia em geral representam a vida toda das mulheres negras em apenas uma mulher, como se todas as mulheres negras tivessem o mesmo modo de viver, de ser feliz, de sofrer, nós mulheres negras percebemos muitas semelhanças nas vivências, porém é notório que temos complexidades em nossas vidas que nos torna diferentes.

Conceição demonstrou com um esmero magnifico as 13 histórias dessas mulheres negras. Cada uma me chamou a atenção de forma especial, contudo duas mulheres me arrebataram, Isaltina Campo Belo e Lia Gabriel. Não sei ao certo como explicar o modo que essas duas histórias me tocaram, mas era como se fosse possível presenciar essas histórias perto de mim, não são histórias que refletem a minha própria história, mas foram histórias que me despertaram bons e dolorosos sentimentos, era tangível a dor que elas sentiam, assim como seus momentos de alegria e de resistência.

Logo no inicio Conceição falou sobre a sua escutatória, lembrei de Rubem Alves, das pretas velhas, das benzedeiras, das parteiras, fiquei pensando em como estamos perdendo esse manejo das nossas de saber escutar, essas mulheres antes de fazer qualquer coisa ou procedimento com as pessoas que lhe procuravam elas escutavam tudo que era relatado, Conceição resgatou a necessidade do saber escutar, não apenas ouvir, inclusive fica ainda mais explicito toda essa importância na história de Mirtes Aparecida da Luz, espero que com esse livro possamos despertar o significado para o poder que é escutar. 

Nas outras resenhas dos livros de Conceição aconselhei que vocês lessem devagar, nessa faço a mesma coisa, leiam Insubmissas devagar, sintam cada história, se deixem ser afetados pela escrita de Conceição e depois que terminar a leitura é como se não fossemos a mesma pessoa, pelo menos eu me sinto diferente, é como se eu tivesse vivido mais, vivido também a história das mulheres que li, isso só Conceição consegue nos proporcionar.

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