Entrevista com Lendo Mulheres Negras


No dia 25 de março de 2017 foi o meu primeiro contato presencial  com o Lendo Mulheres Negras, de lá pra cá sempre tento acompanhar o projeto seja pelas redes sociais ou pessoalmente. Quando construí o blog sabia que precisava movimentar de diversas formas, com resenhas, trecho de livro, entrevistas e todas essas coisitas que vejo blogueirinhas fazendo por aí kkkk então quando pensei em fazer uma entrevista o primeiro nome que surgiu na minha mente foi Lendo Mulheres Negras, entrei em contato com Adriele e ela prontamente se disponibilizou. No dia 15/04/2018 nos encontramos no Parque da Cidade e realizamos a entrevista, eu - Uma Leitora negra e Adriele e Evelyn - Lendo Mulheres Negras. Sendo assim, segue essa entrevista maravilhosa, leia com atenção 😘😘

Uma Leitora Negra: Quem são as fundadoras do Lendo Mulheres Negras?
Uma Leitora Negra: Como surgiu o Lendo Mulheres negras?

Adriele Regine: sou bacharel em Design de moda e mestranda em Estudos Étnicos e Africanos, sou uma das cofundadoras do Lendo Mulheres Negras. Literatura pra mim é diversão e aí a gente fez mesmo para sair das teorias todas que a gente tá sujeito dentro da academia e acabou que se tornou tudo isso que é o LMN, meu signo é de aries.

Evelyn Sacramento: sou formada em cinema audiovisual faço mestrado em Estudos Étnicos e Africanos junto Adriele e Paula, foi lá que a gente se encontrou e topou fazer o LMN, sou cofundadora do LMN, e literatura e cinema foram a base da minha vida desde a infância, então é só continuidade, essas são a base de tudo, de como eu gosto de me expressar, de como eu gosto de ver as coisas.

Paula Gabriela: sou brasiliense, escorpiana, bookaholic, Psicóloga formada pela Universidade Católica de Brasília - UCB e mestranda em Estudos Étnicos e Africanos pela Universidade Federal da Bahia. O LMN surgiu do amor pela literatura que me acompanha desde criança. Mas eu nunca tinha pensado em criar um projeto. Nesse feliz encontro com a Adriele e a Evelyn, junto com a necessidade de ocupar o CEAO e a invisibilidade das escritoras negras nós construímos a proposta e de repente o projeto criou vida própria.

Uma Leitora Negra: Vocês usam o termo cofundadoras, tem algum significado?

Lendo Mulheres Negras: Foi porque ele foi fundado em colaboração, de fato, chegamos na Pós Afro, que é o programa que a gente faz o LMN, com a ideia de movimentar o espaço, porque a gente vai chegando cheia de energia, cheia de ideia para fazer e também ficávamos muito isolado lá, não tinha outras turmas e sempre conversamos muito sobre literatura, nós três. 

Nossa construção social foi a partir da literatura então a gente viu isso como uma coisa em comum em nós três, nas conversas percebemos que a literatura de mulheres negras foi muito ausente na nossa construção, a gente só leu homens brancos ou mulheres brancas, e quando você percebe você se pergunta, Qual autora negra eu leio? Principalmente teoria também.

Antes de começar o LMN eu (Evelyn) fiquei pirando nisso aí, eu acabei lendo três livros de Chimamanda em sequência, Meio Sol Amarelo, Hibisco Roxo e Americanah, eu li no celular em PDF, mas aí eu comprei Americanah porque eu tinha que ler aquele livro físico, eu li numa viagem para Brasília, tipo o livro tem 600 páginas eu consumi ele tem menos de 24 horas, comecei antes da viagem, li no caminho, cheguei lá e terminei, é o livro que mais gosto, que eu tenho um maior afeto.

Uma Leitora Negra: Como vocês dividem as tarefas entre vocês, publicações no Instagram, Facebook, criar o evento e gerenciar?

Lendo Mulheres Negras: É muito Adriele isso, essa parte de redes sociais é Adriele, a gente divide o que vai passar pra ela, mas essas coisas com relação a postagens é Adriele. A gente tem um layout que é próprio, sempre pensamos em fazer algo bem legal e profissional, dialogamos qual vai ser as cores, qual vai ser o formato das coisas, mas é muito Adriele com relações as postagens.

Uma Leitora Negra: Mediar e fazer as perguntas disparadoras vocês dividem essa tarefa?

Lendo Mulheres Negras: A partir do momento que definimos o livro, que é de uma forma bastante orgânica, e como já temos quase dois anos de projeto, já temos uma sequência de coisas que precisamos, um post fixo que é o principal, esse é o primeiro que lançamos, de uma biografia da autora, das obras, de uma síntese do livro, basicamente é isso, as outras coisas nós vamos procurando gradativamente, lendo o livro, aí surgem as frases do livro, curiosidade da autora, da obra, a gente vai tentando resgatar coisas, que já saiu a muito tempo atrás ou coisas novas também pra ficar alimentando a página e as pessoas ficarem conhecendo mais sobre a autora, é porque a gente tem isso também, não é só nossa divulgação, a gente divulga também outras pessoas, outras coisas, a gente tenta sempre mapear isso partindo de quem a gente escolhe como autora.

As perguntas partem muito do que a gente lê, de fato, a gente se coloca como se fosse as pessoas que estão indo pro encontro, então partindo disso o que é que toca a gente dentro do livro, sendo assim a gente começa a chamar as pessoas para falar, porque sempre falamos que o lendo é muito mais que um clube de leitura é uma roda de afeto, de fato, da gente poder curar as feridas se tiver que curar ou abrir se precisarem abrir.

Uma Leitora Negra: Vocês já realizaram 14 encontros (se não me engano kkk), qual critério vocês usaram e usam para escolher as escritoras e as obras?

Lendo Mulheres Negras: Depende de cada mês, porque assim Conceição Evaristo indicou pra gente ler de Geni Guimarães, Lívia Natália indicou pra gente ler Rita Santana, então tipo depende muito, as vezes a gente quer ler uma obra ou já até leu uma obra, por exemplo, Jarid Arraes era uma autora que Paula que conhecia e indicou pra gente ler, porque tem isso também tentamos fazer um intercambio pelo país de autoras de outros lugares para incentivar a leitura aqui.

Quisemos começar com Chimamanda porque era um livro de fácil acesso, curtinho, que tinha em PDF, também tem isso, o custo de livro. Tem os livros que a gente quer ler, ou já leu e acha importante, os livros que tem temática específica, por exemplo, Cartas Para Minha Mãe que lemos em maio era bem incisivo, foi uma escolha minha (Adriele), eu estava pesquisando autoras cubanas, foi uma dificuldade achar o livro, ele estava na seção espiritual porque na verdade a personagem escreve pra uma mãe que já faleceu. Foi muito legal ler Teresa porque ela mandava inbox pra gente, ela mandou um poema especial pro encontro

Uma Leitora Negra: Vocês publicaram?
Lendo Mulheres Negras: Não, a gente só leu no encontro, gravou um vídeo.
Uma Leitora Negra: Vocês publicaram o vídeo?
Lendo Mulheres Negras: Não.
Uma Leitora Negra: Como assim gente?
Lendo Mulheres Negras: Era um poema inédito que ela tinha mandado.
Uma Leitora Negra: Genteeee

Tem essas coisas porque tipo as autoras que são convidadas para participar dos encontros sempre falam “Nossa como é legal porque a gente tem um feedback do leitor”, não é só uma palestra que a pessoa vai lá falar do livro, por exemplo, Ana Célia foi um livro que não foi literatura, mas tinha dentro do livro poemas dela, que a gente nem sabia que ela tinha relação com poesia, mas hoje Ana Célia manda e-mail pra gente perguntando quando vai ser o próximo encontro.

Um livro também puxa o outro, eu estava lendo uma matéria sobre esse livro aqui (Laços de Sangue) e aí conheci o livro de uma autora daqui de Salvador, Aline França, que ela também faz ficção cientifica, e faz com a perspectiva racial, é uma autora que quase ninguém conhece e ela tá no mesmo patamar de temática que Octavia Butler, é uma escritora daqui de Salvador e eu não saberia dela se não tivesse pesquisando sobre o livro, ela é professora da UFBA. A gente tá vendo se pode trazer ela em algum momento, porque é uma autora daqui que não é reconhecida e a gente acha importante trazer as autoras, para que as autoras sejam vistas e que vejam que a gente tá lendo o livro dela. É por isso também que a gente sempre nos cards mostra bastante o rosto das autoras, justamente para que as pessoas reconhecem, vejam, saibam quem é, a fisionomia e tudo mais.

Uma Leitora Negra: Vocês já sofreram com algum tipo de comentário racista, machista e outros, sobre ser um grupo que lê exclusivamente mulheres negras?

Lendo Mulheres Negras: A gente só viu isso uma vez na página da gente, um cara fez um comentário falando sobre ser só mulheres negras com aquela ideia de raça humana né, mas a gente nem respondeu. Não tem comentários assim não e também eu acho que o espaço que a gente tá a relação que a gente criou, as pessoas que estão do nosso lado são parceiros, o encontro existe porque estamos todas ali unidas fazendo aquilo, então não é só eu, Adriele e Paula e agora e Hildalia e Hugo que constroem isso, o fato das pessoas se deslocarem e irem, as vezes comprarem o livro, Esse Cabelo de Djaimila esgotou na livraria, então não é só a gente, nós puxamos o bonde. Quando lançamos o LMN a gente percebeu que era uma necessidade, alguém estava precisando disso aqui e a gente querendo ou não que precisávamos também fizemos, viabilizamos.

Uma Leitora Negra: No dia 25.03.17 vocês fizeram um encontro em parceria com o Leia Mulheres, como foi que vocês se juntaram e o que vocês acharam do encontro?

Lendo Mulheres Negras: Entraram em contato com Paula propondo a parceria juntamente com o Leia, a ideia era que dentro do Leia lessem um livro de uma autora negra, aí como já estávamos pensando em Olhos D’água de Conceição Evaristo sugerimos e ficou sendo esse o livro do encontro. Quem viabilizou também foi o professor Marcelo Cunha, ele sugeriu ocupar o museu. O encontro em si foi um dos encontros mais desafiadores pelo fato do público ser diferente do que costumamos reunir, estávamos muito tranquilas com o encontro. Percebemos uma disparidade de opiniões que ficou muito forte e muitos comentários não poderíamos deixar passar batidos, então por isso que foi desafiador. No nosso espaço os comentários são muitos congruentes e nunca tínhamos vivido uma experiência de estar fora dele, eu gostei nesse sentido, a gente conseguiu desconstruir algumas coisas.

Uma Leitora Negra: Como o Lendo Mulheres Negras foi parar em Brasília?

Lendo Mulheres Negras: Já era algo que a gente pensava em fazer, construir o LMN em vários lugares, desde o ano passado a gente tenta. Paula que é de Brasília, quando voltou pra casa montou o grupo lá, Paula fez escolhas bastantes assertivas, porque por exemplo Cristiane Sobral era alguém que a gente sempre quis ler, mas a gente queria ler com ela, e nunca conseguimos por conta de questões financeiras e tudo mais, o primeiro encontro em Brasília foi com ela e o segundo encontro teve Tatiana Nascimento, ela que faz seus livros manualmente na editora dela, Padê Editora, e também era uma escritora que a gente não iria conhecer porque não tá no circuito das livrarias.

Uma Leitora Negra: Quais os planos ou metas pro futuro do Lendo Mulheres Negras?

Lendo Mulheres Negras: O futuro é continuar com os encontros e pensar em coisas mais pontuais, em outras comunidades, outras ideias, mas que a gente já tá pensando em fazer. Esse ano de 2018 a gente passa a se estruturar melhor em termo de grupo, em termo de literatura, em termo de outras ações, éramos nos três e agora tem Hildalia e Hugo, que entraram efetivamente no grupo, a gente tá pensando em ações mais ampliadas, coisas mais ampliadas e pontuais, mas tudo isso precisa de recurso para gerir, para colocar isso em prática.



Adriele Regine
Evelyn Sacramento 
Paula Gabriela 



Hildalia Fernandes 
Hugo Mansur


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