Heroínas negras brasileiras: em 15 cordéis - A escrita da oralidade
“Adulta descobri nomes
avulsos enquanto pesquisava sozinha, tentando resgatar minhas origens
afro-brasileiras. O esquecimento dessas mulheres negras me fez decidir criar
uma coleção de cordéis intitulada Heroínas Negras na História do Brasil.” (Orelha do livro)
Quem conta a sua
história? Quem registrou os seus ancestrais? Quem consagra o seu futuro?
Se formos falar de forma
acadêmica e oficial vamos ver que não existe nossa história, vamos ver que
nosso passado só começa a partir do período escravocrata chegando a um determinado
momento no qual paramos de existir e somos jogados no esquecimento. Agora se
formos falar da oralidade, do poder do que é herdado de pai pra filho veremos que nosso passado
vem de longe, vem de antes, vem da África.
Já contei aqui a minha
história de como conheci as escritoras negras, escuto relatos de outras
mulheres que também são parecidos. A todo momento ansiamos por ler e ter a
nossa história contada pelas nossas, mas essa nunca é apresentada e concedida
pra gente, precisamos desbravar e persistir em um meio que o que tem o poder de
fala sempre é o homem-branco-cishétero.
Jarid Arraes resiste
nesse meio, resiste por ser uma mulher, negra, nordestina e além de tudo
resiste por trazer para a escrita a oralidade, a memória, e por representar uma
literatura tão nossa, a literatura de cordel.
Podemos dizer que Jarid
como uma boa Cearense herdou da família o dom do cordel, assim ela não poderia
negar o talento, pelo contrário ela a utiliza com maestria escrevendo sobre as
mulheres negras que o sistema tanto tenta apagar da história.
O livro - Heroínas Negras
Brasileiras: em 15 cordéis, não começa no livro propriamente dito e para mim
essa é a maravilha do livro. Jarid escreve que realizou pesquisas por cinco
anos para encontrar toda a história das heroínas, procurou nos meios oficiais,
mas se alicerçou principalmente nas histórias orais. Sendo assim, ela construiu
20 perfis em cordéis e foi o maior sucesso de vendas e de representatividade.
Então surge o livro e
nele ela destaca 15 mulheres, contando com uma sensibilidade e vivacidade a
biografia de cada heroína. O cordel em si tem uma linguagem dinâmica e bastante
acessível, isso já me encantou como leitora, confesso que no primeiro cordel
lia rimando os versos, até li em voz alta para minha irmã, Antonieta de Barros
foi o cordel que li mais vezes kkkk
Nesse ponto quero frisar
que cordel e repente são manifestações culturais diferentes, por vezes nós a
confundimos e juntamos tudo em uma expressão só, digo isso principalmente por
mim. O repente é baseado na poesia falada e improvisada, geralmente acompanhado
de instrumentos musicais. Já o cordel tem traços
de oralidade e é divulgada em folhetos feitos através da xilogravura. Deixo no final links que explicam
melhor a literatura de cordel.
Algumas das heroínas já conhecia, outras foi uma surpresa total e aqui
agradeço a Jarid por tê-las me apresentado. Três mulheres me chamaram a
atenção, Carolina Maria de Jesus, Maria Firmina dos Reis e Na Agontimé. Todas
as três já conhecia, posso dizer que com Carolina tenho uma relação já intima.
Com Maria Firmina temos um certo flerte, e é meu sonho um dia poder ler o livro
Úrsula. Na Agontimé conhecia do livro Um defeito de Cor de Ana Maria Gonçalves,
me surpreendi com o cordel dela, pois se muitos duvidam da veracidade da existência
e luta de Luiza Mahin imagina de Na Agontimé, ver Jarid abrir espaço para a voz dessa mulher
me emocionou bastante.
As heroínas do livro são: Antonieta de Barros, Aqualtune, Carolina Maria de Jesus, Dandara, Esperança Garcia, Eva Maria do Bonsucesso, Laudelina de Campos, Luisa Mahin, Maria Felipa, Maria Firmina, Mariana Crioula, Na Agontimé, Tereza de benguela, Tia Ciata, Zacimba Gaba.
As heroínas do livro são: Antonieta de Barros, Aqualtune, Carolina Maria de Jesus, Dandara, Esperança Garcia, Eva Maria do Bonsucesso, Laudelina de Campos, Luisa Mahin, Maria Felipa, Maria Firmina, Mariana Crioula, Na Agontimé, Tereza de benguela, Tia Ciata, Zacimba Gaba.
Eu ganhei esse livro de presente de aniversário em janeiro e logo li,
fiquei com algumas dúvidas, mas prossegui com a vida, então o blog surgiu e despertou
em mim novamente tais duvidas, pensei em mandar um e-mail pra Jarid, mas aí
desisti, imagina se ela iria responder um e-mail de uma blogueirinha iniciante,
massss o bichinho da inquietação não me deixou e acabei mandando o e-mail,
enviei em um domingo e a própria Jarid me respondeu na terça, quando vi o
e-mail de resposta fiquei chocada e super feliz, Jarid Arraes tinha me
respondido 😍
A primeira pergunta era sobre como ela conseguiu selecionar quinze
mulheres para compor o livro, ela me respondeu que todas já existiam em cordéis
avulsos e que acabou juntando-as no mesmo livro, não vou colocar aqui a
pergunta e resposta literais porque espero já ter deixado enegrecido
isso no decorrer do texto.
As outras perguntas foram:
Uma
Leitora Negra: A ordem que as heroínas são apresentadas
no livro seguiu algum critério seu ou não teve uma sequência lógica?
Uma
Leitora Negra: Todas as histórias começam em páginas
impares e em especifico com o final da numeração 7, foi algo de propósito ou
não teve intenção alguma?
Jarid
Arraes: A ordem delas no livro foi escolha da editora, foi
por ordem alfabética, já as páginas ímpares e a numeração 7 acredito que foi um
esforço da designer, a Gabriela Pires, que também fez as ilustrações. Como cada
cordel tem a mesma quantidade de páginas, acho que acabou sendo um
"acaso" e também uma certa escolha da Gabi :)
(A
resposta depois de ler as respostas de Jarid) Gente como assim
não reparei que estava em ordem alfabética, logo eu a capricorniana, detalhista, observadora. Ao iniciar a leitura imaginei que leria as mulheres em ordem
cronológica, não sei porque pensei nisso, mas não tem nada disso, é em ordem alfabética
mesmo.
Uma
Leitora Negra: Tem uma personagem que me chamou a
atenção por já ter lido sobre ela em outro livro, Na Agontiné, li sobre ela no
livro - Um defeito de cor de Ana Maria Gonçalves, você já leu esse livro?
Jarid
Arraes: Li sim o livro da Ana Maria Gonçalves. É um livro
maravilhoso, considero um clássico da nossa literatura. A Ana Maria é incrível,
já tive o prazer de participar de eventos com ela, e esse livro é tão
extraordinário, né?
(A
resposta depois de ler as respostas de Jarid) Sim, é um livro
extraordinário mesmo que em breve também escreverei uma resenha, e seria outro sonho
meu conhecer Ana Maria Gonçalves?!
Uma
Leitora Negra: Você pretende lançar outro livro com
mais heroínas negras?
Jarid Arraes: Sobre um livro com mais Heroínas Negras, está sim nos planos
para um futuro próximo. Esse ano vou lançar um livro de poesia, então vamos
trabalhar para que o próximo Heroínas venha em breve.
(A
resposta depois de ler as respostas de Jarid) Quem venha os
próximos livros e que venha também os próximos presentes de aniversário kkkk
Jarid tem uma loja
virtual, sendo assim, passa lá para ver os cordéis, livros e se puder compra logo
vários: www.loja.jaridarraes.com
REFERÊNCIAS:
COSTA, Isabel. Cearense Jarid Arraes lança livro sobre
heroínas negras. Disponível em:<http://blogs.opovo.com.br/leiturasdabel/2017/05/19/cearense-jarid-arraes-lanca-livro-sobre-heroinas-negras/>
TERTO, Amauri. 15 heroínas negras do Brasil ganharam
biografias em cordéis. Disponível em:<https://www.huffpostbrasil.com/2017/05/25/15-heroinas-negras-do-brasil-ganharam-biografias-em-cordeis_a_22110036/>
DIANA, Daniela. Literatura de Cordel. Disponível
em:<https://www.todamateria.com.br/literatura-de-cordel>
MELO, Priscila. Literatura de cordel. Disponível
em:<https://www.estudopratico.com.br/literatura-de-cordel/>
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