Esperança para voar

 

Sem sombra de dúvidas foi uma das melhores leituras do ano, o livro é surpreendente e de uma sensibilidade enorme, me encantou a cada parágrafo lido, a cada construção das cenas na minha mente, eu me sentia tocada pelo objetivo da autora que é mostrar que precisamos sempre ter esperança.

A história é protagonizada por duas adolescentes, cada uma lidando a sua maneira com a dor da morte, seja a morta do pai ou a possível própria morte, e no meio disso tudo, desse sofrimento e misturas de sentimentos surge e se fortalece a amizade entre Shamiso e Tanyaradzwa.

Essa amizade está envolta de tudo o que acontece no país, das questões políticas que marcaram o ano de 2008, mais especificamente para Shamiso que perde o seu pai por ter investigando e descoberto a corrupção de um ministro. A autora apresenta de forma muito consciente a situação política e como ocorre os desdobramentos para os personagens, para os mais pobres e também como não afeta em nada os mais ricos.

Shamiso e sua mãe estão caminhando na parte mais rida da cidade para chegar em uma casa para trabalhar lavando a roupa dessa família e em certo momento Shamiso expressa esse pensamento: “[...] ela continuou subindo a ladeira. As casas foram ficando mais chiques, os quintais ainda maiores. Por um momento, perguntou-se se a seca atingira essa parte da cidade.” Trecho do livro.

A escritora apresenta nos personagens algo que acho admirável na obra dos escritores negros, coloca como humanos passiveis de todos os sentimentos, de erros e acertos, do melhor e também do pior e nunca, em hipótese alguma, apenas daquela velha e falsa dicotomia de pessoa boa e pessoa má.

No livro vemos duas adolescentes sendo duas adolescentes, com medos, que foge, que toma porre, que sente insegurança, que também é forte, e que lida ao seu modo com todas as adversidades e o que aparece na vida de duas meninas em Zimbábue em meio ao turbilhão político.

Um trecho que gostei muito foi quando a mãe de Tanyaradzwa fala sobre isso com a filha: “Tudo bem ficar chateada. Mas, querida, se você aceitasse que pessoas são pessoas, feitas de uma vida inteira de erros e medos, talvez você conseguisse entender o lado delas.” Trecho do livro.

Aproveito para pontuar sobre a família das duas meninas, como são apresentadas de forma tão bela, as mães principalmente, estão bem longe do estereótipo da mulher negra forte que dá conta de tudo, que nunca vai apresentar desânimo, choro, insegurança ou medo, todos esses sentimentos que são naturais de sentirmos, mas que nos é negado, pois a humanidade é sempre negada a pessoas negras.

Teve um determinado momento do livro que o meu coração ficou tão apertado, o medo também me tomou, fiquei esperando em cada linha que a esperança aparecesse de repente e resolvesse tudo, e é o que realmente acontece, uma ligação consegue acalmar o nosso coração, o meu, de Shamiso, da sua mãe e avó e assim sentimos a esperança ressurgindo.

Só o que posso fazer agora é recomendar demais que vocês leiam essa obra prima, conheçam mais da literatura negra africana, se encantem lendo escritoras negras africanas.

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