Eu conheço Uzomi

 

Primeiro livro que leio da escritora Kinaya, e comecei muito bem, seu livro afrofuturista foi uma leitura deliciosa e me encantou. Assim como Lu Ain-Zala, Kinaya torna-se um nome de peso dentre as escritoras negras afrofuturistas.

A obra acontece em um tempo futuro, mas ficamos com aquela sensação de que a qualquer momento podemos realmente estar nesse tempo de tanta escassez e incertezas. Além dessa sensação, a escrita de Kinaya também nos proporciona um suspense, incita uma curiosidade enorme pelo que pode acontecer na história, inclusive o final só nos deixa doidos para ler o próximo volume.

Apesar de se passar no futuro, a questão do sucateamento da educação pública e não valorização do professor é um problema antigo e estrutural, a nossa protagonista Hadassa é professora, assim como a escritora, seria coincidência isso!? Bom, acompanhamos as mudanças que ocorre na sua vida e vamos descobrindo junto com ela as armadilhas do novo emprego.

Kinaya nos apresenta uma protagonista forte, mas não é aquele perfil estereotipado da mulher negra forte, pelo contrário, Hadassa é a força ressignificada, a força que a mulher negra tem e que sabe usá-la, não tem nada a ver com a força brutalizada e animalesca que a branquitude insiste em instituir sobre corpos negros e em especial das mulheres negras.

Um exemplo dessa falsa força vemos no serviço de saúde pública onde mulheres negras não recebem anestesia quando estão em trabalho de parto, pois a equipe médica acha que um corpo negro é mais forte e por isso nega os cuidados necessários. A literatura negra se mostra essencial por desconstruir essa visão eurocêntrica sobre nossos corpos, assim nos empoderamos e descobrimos a nossa real força ancestral e passamos a reivindicar os nossos direitos, como em casos do exemplo a cima.

Outra questão abordada com maestria na obra é o lugar que se passa a história, Kinaya apresenta visivelmente o local onde passa a história, apresenta o modo de falar, sotaque e as variações linguísticas, apresenta também a cultura local, pois caros leitores eu aqui na Bahia e Kinaya no Ceará temos vivências de nordestinas completamente diferentes e isso ocorre principalmente pelos locais onde moramos, isso quer dizer que mais uma vez a literatura desmistifica o racismo e xenofobia de achar que o nordeste é todo igual, um único lugar, nós nordestinos somos múltiplos, assim como nós negros somos diversos.

Bom, e além disso tudo surge na história um bonito romance entre Hadassa e Uzomi, confesso que fiquei pensando que seria entre Hadassa e Duane. Então aqui nesse ponto acontece o sequestro de Uzomi e Kinaya aborda uma questão importantíssima. Mostra como a branquitude usa literalmente corpos negros para produzir medicamentos e armas que possam beneficiar a própria branquitude e deixar ainda mais oprimido o povo negro.

Por fim só pergunto quando vai ter o próximo volume??? Muitas perguntas não foram respondidas e acho que foi de propósito para nos deixar com esse gostinho de quero mais rsrs

Recomendo o livro Eu conheço Uzomi para quem quer conhecer mais sobre afrofuturismo, quem quer conhecer mais uma escritora negras e também para quem quer presentear algum adolescente, pois essa leitura é pura magia para os nossos jovens negros.

 

 

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