O diferencial da favela: poesias e contos de quebrada
Estes autores fazem pulsar a vida em
várias batidas, costumam as histórias de todo um povo, fazendo ponte entre o
continente africano e a Sussuarana, entre e a diáspora, entre os que estão aqui
e os ancestrais. Refazem a trajetória unindo duas histórias de um mesmo povo, o
ontem e o hoje, através das palavras, através das histórias, através de cada
poesia que modifica e amplifica o nosso mundo.
Ser diferencial na quebrada é rejeitar o
destino construído pela elite racista deste país e a família Sarau da Onça
rejeita diariamente os rótulos construídos para o povo preto e constrói identidade
a partir da ancestralidade. Talvez esta seja a missão do Sarau da Onça:
reconstruir os caminhos e refazer a história da juventude negra das periferias.
(Alaide Santana – Orelha do livro)
O diferencial da favela é o segundo livro
que leio que reúne poesias e contos de escritores da favela, escritores estes
que produzem diariamente a literatura que dentro da literatura negra pode ser
ainda intitulada como literatura periférica ou marginal, a literatura que nem
sempre é considerada literatura, assim como acontece com os escritos de
Carolina Maria de Jesus, são escritos cheios de oralidade, de voz, de melodia,
são palavras que antes foram declamadas para depois serem deitadas em papel.
O primeiro livro que li nessa mesma
perspectiva foi o Poéticas Periféricas, estes livros têm em comum o fato de
darem oportunidade a escritores e escritoras iniciantes, que ainda não tem
livros individuais, que são muito jovens, como o exemplo da poesia que
destaquei em uma imagem, Amanda Quésia tem apenas 19 anos, fiquei muito
surpresa e contente quando soube desta informação, o livro é de 2017 então
quando foi publicado ela tinha quantos anos? 18 anos? Nossa dar oportunidade a
uma jovem negra da favela é dar eco a voz da resistência.
Este livro traz o diferencial de ter
contos e poesias, primeira vez que vi este modo de arranjo, confesso que gostei
e achei bem mais atraente assim, pois os contos me interessam bem mais que as poesias,
porém também gosto de poesias. O livro não segue uma ordem alfabética, apresenta
mais de uma poesia do mesmo escritor ou escritora, mas estes não estão juntos,
estão espalhados pelo livro, quando lia uma poesia do mesmo autor que via o
nome pensava “já vi esse nome lá atrás”, isso me deu uma certa agonia pelo meu
jeito de ser organizada mesmo.
Outro ponto diferente e que me senti um
pouco perdida foi não ter uma biografia dos escritores ou escritoras, dizer
quem são eles e elas, alguns nomes eu reconheci por já ter lido em outros
livros ou por saber quem são tipo, Ana Fátima, Jairo Pinto e Sandro Sussuarana,
mas os outro fiquei sem saber quem eram, seria algo maravilhoso ter uma mini
biografia para poder dar um contexto e história para a própria pessoa que está
compartilhando conosco leitoras alguns dos seus escritos em poesia ou conto.
Eu fiquei encantada com todas as poesias e
contos, ia escolhendo o meu preferido a cada página que lia, o livro todo
acabou sendo meu preferido rsrsrsrs destaquei a poesia de Amanda por ter feito
um sentido muito pessoal pra mim pelo momento que estava passando, eu acredito
que tem livros que lemos no momento certo para ler, são aqueles livros que de
alguma forma trazem respostas para acontecimentos da nossa vida. Adorei ver as
poesias das mulheres, como falaram sobre empoderamento, respeito a religião,
feminismo, solidão da mulher preta, sonhos, temas que são muito caros para nós
mulheres negras.
O livro é de um conteúdo primoroso é
daqueles livros que temos vontade de reler sempre que possível, as poesias e
contos abrangem temas super variados, desde uma relação amorosa até o genocídio
do povo negro, é de uma linguagem acessível, cada poesia consegue desenhar a
sua própria estética em nossas mentes, e fiquei imaginando todas essas poesias
em um sarau como deve ser encantador poder ouvir a nossa própria história declamada
por nós mesmos.
Oi, Lais! Parabéns pela resenha (e pela foto). Quando li, fiquei me perguntando se a Ana Fátima era a mesma dos Cadernos Negros, porque lá ela assina como Ana Fátima dos Santos. Rsrsrs. Gostei da capa e do projeto gráfico, porém, também senti falta de uma mini-bio. Obrigada.
ResponderExcluirNossa eu estou encantada com essa resenha, e ainda mais feliz por ter me citado, é muito importante essas falas até porque nos incentiva ainda mais na caminhada, sobre a questão das mini bio, também senti uma falta. E suas dicas são ótimas e recomendações também, fico muito grata!
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