Compaixão
Li
Compaixão no início do ano passado, acho que demorei para fazer essa resenha
porque não foi um livro que supriu minhas expectativas, mas também eu que não
deveria ter criado tanta expectativa assim, li Compaixão depois de ter lido O
olho mais azul, esse se tornou um dos meus livros preferidos, não tem livro que
consiga superar O olho mais azul.
Compaixão
só fez sentido pra mim lá no final, nas últimas folhas, nas últimas palavras
escritas, e nessa hora me deu aquela vontade de reler o livro com o novo olhar
que Toni Morrison conseguiu despertar, quando vocês estiverem lendo o livro não
leiam o final antes do tempo certo!?
Toni
Morrison escreveu nesse livro humanizando os personagens, principalmente os personagens
negros, essa é uma das coisas que mais gosto dessa escritora, o modo que
escreve sobre as pessoas fugindo completamente da dualidade do bem e do mal.
Pra
mim tudo começa e termina em Florens, pra mim é como se ela fosse a personagem
principal, mas Toni apresenta um modo de escrever que ao falar de cada
personagem torna ele o personagem principal, ela não fala dos personagens
apenas como ‘coadjuvantes’, cada um e uma tem a sua importância, a sua história
e capturam a nossa atenção e nos apresenta outros olhares da própria história.
Florens
foi dada quando criança devido uma cobrança de Jacob, D'Ortega aceitou que ela fosse
dada para pagar a dívida com Jacob. Jacob aceitou aquela menina que usava
sapatos bem maiores que o seu pé, muito mais para consolar a sua esposa que
tinha perdido seu filho e também para terminar aquele momento que para ele não
estava sendo nada agradável.
Já
nesse instante vemos a alusão das imagens de duas mães, uma mulher negra
escravizada que vê sua filha sendo dada como uma mercadoria, e uma mulher branca
livre que vê seu filho morto. Vemos ilustrado nessa situação o roubo por parte
da branquitude, como é retirado do negro para suprir algo do branco, nesse caso
uma criança. Toni Morrison vai falando sobre as diferentes maternidades ao
longo do livro por meio de outras personagens também.
Mainha
também leu esse livro e quando conversávamos ela falou sobre a mãe ter
oferecido a sua própria filha, acredito que pra ela que é mãe de duas meninas
essa situação tenha um valor diferente do que tem pra mim que não sou mãe. Respondi
que no final a gente descobre o real motivo da mãe ter oferecido a sua filha,
ela ficou pensativa e concordamos que no momento parecia ser a melhor solução.
Chega
um momento da história, Florens já grande, que ela se apaixona, a patroa Rebekka
até utiliza desta paixão para benefício próprio ao mandar que Florens fosse atrás
do seu amado, mas nesse novo reencontro Florens tem o maior choque de sua vida.
Ela percebe que o homem que amava não a ama, e nesse momento ela perde o único amor
que pensou ter conhecido na vida. Como até então ela só conhecia esse tipo de
amor ela se agarrou nele com todas as forças e ao constatar que não valia nada
desmoronou.
Ao
sair da casa deste homem, Florens passa por uma enorme mudança, ao caminhar ela
vai se descobrindo, é como se estivesse passando por uma transmutação, e nisso
tudo ela está descalça, sem estar usando qualquer sapato que seja de outra
pessoa, que fica maior no seu pé, ela está sendo ela mesma, com seus pés em contato
com o chão e sofrendo por isso.
“Está
vendo? Você está certo. A minha mãe também. Eu virei fúria mas também sou
Florens. Completa. Imperdoada. Imperdoável. Sem piedade, meu amor. Nenhuma.
Ouviu? Escrava. Livre. Enfim.
Vou
guardar uma tristeza. Que esse tempo inteiro eu não posso saber o que minha mãe
está me dizendo. Nem ela pode saber o que estou querendo dizer para ela, Mãe,
você pode ter prazer agora porque as solas dos meus pés estão duras feito
madeira de cipreste.”
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