Sankofia - Breves histórias sobre afrofuturismo
Sankofia foi o primeiro livro que li sabendo
que era sobre afrofuturismo, porém não foi o primeiro livro afrofuturista que
li. Esse termo pra mim não era desconhecido, mas sabia bem pouco sobre, acompanho
pelas redes sociais o escritor Fábio Kabral que atua nessa vertente, me sentia instigada
a conhecer mais sobre esse mundo, poder de alguma forma também fazer parte, no
entanto o tempo que não sabemos administrar nos envolve e não conseguimos dar
conta de tudo que queremos, até que esse livro Sankofia chegou em minhas mãos.
Luciene Ernesto ou Lu Ain-Zaila escreveu
um dos melhores livros que eu já li, com toda certeza está na minha lista de
livros preferidos. A minha relação com o livro não é somente com a história contada,
mas envolve a capa, a introdução, os desenhos, tudo que compõe o livro, e com
esse livro foi assim, desde antes das histórias já estava muito envolvida com o
livro em si.
Acredito que a escritora tendo noção de
que este termo afrofuturismo não é de conhecimento de todos fez um bonito
trabalho de explicar todos os significados utilizados na obra, explicou o termo
que ela utiliza no titulo - Sankofia, tudo isso está antes das histórias contadas,
esse início se faz necessário e demonstra o cuidado que a escritora teve para
com seus leitores.
Não conhecemos as línguas faladas em
África, não nos é ensinado nas escolas, cursos que falam sobre algumas das línguas
são raros de acontecer e quando acontecem são concorridíssimos, eu aprendi
muitas palavras de determinadas línguas especificas, como a língua Iorubá, através
dos livros de literatura negra. Luciene resgata muitas palavras e termos e nos apresenta
os seus significados, além disso ela demonstra como é a pronúncia, gente como
uma fonoaudióloga da linguagem que acha fantástico a linguística fiquei extremante
encantada com esse trabalho.
A primeira história intitulada de - Era Afrofuturista
- é linda demais, ela conta como o afrofuturismo não é somente o que vai acontecer
no futuro, mas o que foi feito no passado e que gerou consequências para o
nosso presente, e como o nosso presente está se portanto para produzir para o
futuro, Luciene brinca com essa linearidade da linha do tempo, traz nomes de
afrofuturistas do passado que hoje podemos reconhecer como afrofuturistas, que
lutaram para que tivéssemos o nosso presente.
O livro é composto por alguns contos, isso
fica explícito no subtítulo do livro - Breves histórias sobre afrofuturismo, achei
essa ideia muito bacana, porque nos apresentou de uma vez só inúmeras possibilidades
de protagonismo negro, de representatividade, de histórias afrofuturisticas,
não somente aquela que precisa ter cientistas e laboratórios essa ideia de
futuro baseada nos exemplos dos filmes hollywoodianos.
Luciene traz elementos robóticos e da ciência,
porém ela nunca se desliga da ancestralidade, da nossa verdadeira raiz, são
histórias que fazem a cientista ir ao encontro do grupo de anciões para resolver uma
problemática que a ciência padrão não dá conta, em outra história exalta a importância
das pinturas corporais e tradições de uma aldeia para poder ser uma pilota-aviadora, como a união de mulheres empregadas domésticas conseguem destruir o dominador-opressor, ou como a lua, o sol, e a arranha Anansi podem formar uma bela e emocionante história explicando a produção das tranças.
É importante descentralizar essa imagem do
cientista como o único detentor de um conhecimento válido, sendo que sempre
este cientista é um homem branco, Luciene traz outros personagens necessários e
todos são mulheres, em todas as histórias as protagonistas e quase todas as coadjuvantes
ou personagens secundárias são mulheres, e para as pessoas que tem dificuldade
de imaginar personagens sendo negros a escritora ajuda nisso, porque ela
descreve muito lindamente o cabelo, as vestimentas que são utilizadas e fica
fácil imaginar tudo isso.
De todas as histórias eu queria saber bem
mais, queria poder acompanhar mais um pouquinho cada personagem, adoraria que
tivesse um livro inteiro para cada breve história que foi contada, seria
maravilhoso, já vou procurar saber de outras obras da escritora e de outros
livros afrofuturistas. Ahh por sinal o primeiro livro afrofuturista que eu li
foi Namíbia, Não! do escritor Aldri Anunciação.
Comentários
Postar um comentário