Compaixão
Compaixão foi o livro mais diferente que
li em 2019, na verdade o mais diferente que li de todos os outros livros que já
li na minha vida. Primeiro por não ser uma ficção e nem um livro de teoria,
muito menos uma biografia, hoje consigo intitular como sendo um livro de luta,
uma luta bem especifica, uma luta estadunidense que ainda não vemos desta forma
aqui no Brasil, porém uma luta que nos lembra que os nossos estão sendo jogados
em prisões, nos lembra que o genocídio do povo negro continua firme e certeiro
seja em qualquer país.
Bryan Stevenson é advogado, ele é um homem
negro que descobriu quando estudava direito que a sua missão seria defender presos princialmente os do corredor da morte, e
assim está sendo até hoje com a Equal Justice Initiative (EJI) onde ele não luta
sozinho, existem outros advogados com ele, e nós também podemos
colaborar, para maiores informações tem o site www.eji.org.
Bryan consegue fazer uma narrativa forte,
muito forte que por vezes precisei parar para recuperar o folego e tomar um ar,
ler sobre assassinatos em cadeira elétrica pra mim é um tanto pesado, mas além
de ser uma narrativa forte é também instigante e cativante, era como se não conseguisse
ficar longe da história, sempre voltava com mais ânimo para ouvir mais da
história contada por Bryan.
A história principal do livro é de Walter,
um homem negro que foi preso injustamente e ficou no corredor da morte por
muito tempo, esse é o caso contado durante todo o livro que por vezes era
entrecortado por outros casos e outros historias, enquanto conhecíamos mais
sobre Walter também ouvíamos sobre como o sistema prisional estadunidense
trancafiava e matava menores de idade, mães e pessoas com deficiência
intelectual, sendo sua grande maioria pessoas negras e pobres.
Ano passado também assisti o documentário
13ª emenda, assisti bem antes de ler o livro, é um documentário extremante
forte com casos reais e que tem inclusive a participação de Ângela Davis
falando sobre o mecanismo do sistema prisional que assassina principalmente
homens negros.
Já o livro consegue nos dar um panorama
muito mais amplo e diversificado desse mecanismo todo, os exemplos de prisões
de menores de idade, estes sendo condenados sob leis para adultos e os casos de
pessoas com deficiência intelectual foram os que mais mexeram comigo, acredito
que por causa da minha profissão (fonoaudióloga) e de estar trabalhando na
reabilitação de adolescentes e jovens negros com deficiência intelectual,
ficava muito tocada com cada caso apresentado no livro, pensava que poderia ser
um dos meus pacientes.
Ainda penso que pode ser um dos meus
pacientes, que já me relataram diversas vezes que foram parados pela polícia,
revistados e tratados como indigentes. Aqui não temos a pena de morta escrita,
mas está sendo executada a cada dia, nas favelas, no subúrbio e nas prisões. No
livro inclusive Bryan relata um pouco sobre sua vinda aqui pro Brasil, mas nada
além disso.
Foi uma experiência única e muito
enriquecedora a leitura do livro, que em breve vai
ter o lançamento do filme Luta por Justiça baseado no livro, foi muito bom
também assistir o documentário 13ª emenda, esse é um assunto extremante pesado,
histórias fortes e tristes que acredito precisarmos conhecer para sabermos
lidar e aprender com eles para construirmos luta e não apenas a reação ao genocídio.
Só consigo terminar a resenha desse livro
dizendo VIDAS NEGRAS IMPORTAM!
As estatísticas são aterrorizantes e as previsões desanimadoras. Como mudar essa perspectiva? Me pergunto, a cada notícia de um jovem negro, preso ou abatido. Abatido sim, porque ainda somos tratados como carne de segunda dentro da sociedade racista.
ResponderExcluirboa noite, estou querendo ler esse livro, sabe algum site onde consigo baixa-lo?
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