Ritos de passagem (Vol. 2) - Xenogênese

Pela primeira vez leio uma obra de Octavia Butler em que o protagonista é um homem, ou melhor dizendo um constructo masculino, na duologia Sementes da terra e em Kindred as protagonistas foram mulheres, achei muito interessante Butler apresentar esse volume de outra perspectiva. Outro aspecto dessa trilogia que se mostrou diferente das demais obras foi como a abordagem da ficção científica ficou em maior evidência.

Akin, o protagonista, é filho de Lilith, acompanhamos o despertar e todas as suas ações no primeiro volume, nesse segundo volume acompanhamos Akin desde o período que este estava dentro da barriga da mãe. Uma das características predeterminada para Akin é o de perambular, ele seria alguém que não se fixaria com uma família e uma casa, isso angustia Akin de tal forma que ele vive esse dilema até conseguir encontrar um modo de como ajudar os rebeldes e transformar isso em seu propósito de vida.

 A forma como Akin compreendia os humanos muda quando ele passa um período com eles, período esse que ele não queria ter passado, após seu rapto ele permanece em Fênix, onde fica sob a guarda de Tate, uma antiga amiga de Lilith. Ele aprende com os humanos e também se reconhece como um, chegando a ser dito pelos próprios Oankalis que ele tinha muito da Contradição Humana em si.

Essa situação é interessante para pensar em como é preciso estar disposto e aberto para conhecer e entender o diferente, os Oankalis têm por natureza a curiosidade pelo diferente, mas a situação de Akin é diferente, pois ele não é somente Oankali, ele é um constructo nascido de uma mulher humana, Akin chega perto de uma compreensão do que os humanos sentem com tudo o que aconteceu após a guerra e com isso ele reivindica a favor dos humanos se colocando como um deles.

Desde o primeiro volume Butler apresenta na obra a estrutura familiar dos Oankalis sendo completamente diferente da estrutura familiar humana pensando numa perspectiva ocidental de monogamia, isso para os humanos do pós guerra gerou muitos conflitos, sendo um dos fatores que fez com que muitos optassem por uma vida de rebeldes do que viver em comunhão com os Oankalis, é interessantíssimo levantar esse tipo de debate na obra, pois possibilitar para o leitor essa reflexão de desconstrução do padrão imposto de estrutura familiar.

A obra finaliza com mais uma reflexão muito pertinente para qualquer período da humanidade, aborda como os humanos se autodestroem, se levam para a extinção e mantém guerras entre sua própria comunidade. Os Oankalis alertam e falam sobre isso para Akin, mesmo assim ele mantém sua decisão de dar uma segunda chance para a humanidade. E é dessa forma que termina o segundo volume deixando a maior curiosidade de saber no terceiro e último volume se a humanidade conseguiu a segunda chance e se fez por merecer essa nova oportunidade.

 

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