Imago (Vol. 3) - Xenogênese

 

Chegamos ao fim de mais uma trilogia lida com sucesso, esse é mais um dos frutos da parceria com a editora Morro Branco, se eu estou amando tanto essa parceria, matando toda a vontade que tinha de ler essas escritoras incríveis. Bom, o livro dessa resenha é o terceiro volume da trilogia Xenogênese, como já disse em outras resenhas essa trilogia é a que tem mais os aspectos de ficção científica, apresenta os subgêneros invasão alienígena e pós-apocalíptica.

Eu confesso que esse foi o volume da trilogia que mais gostei, foi incrível como Butler abordou a temática de gênero e sexualidade sem cair em nenhum clichê ou personagem estereotipado, Butler é realmente grandiosa. O tempo inteiro me lembrou a trilogia A terra partida de N. K. Jemisin no qual também levanta o diálogo para tais questões.

No segundo volume o protagonista foi um constructo do sexo masculino, pela primeira vez li uma obra de Butler que o protagonista não foi uma mulher negra, já nesse terceiro volume o protagonista é um ooloi, ou seja, não é do gênero feminino e nem masculino, seria um assexuado. No início isso é confuso para o próprio Jodahs que é um constructo e nasceu com a aparência sendo do sexo masculino, ao passar pela metamorfose que perceberam que estava tornando-se um ooloi.

Achei muito legal como Butler explorou como a língua se refere a um ooloi, ela fez isso em específico para o espanhol, mas adoraria que fizesse isso para a nossa língua, não seria nada mal utilizar um escrito seu para reafirmar que nossa língua é sexista, assim como a pensadora Lélia Gonzalez já disse sobre o português. Nesse volume aparece um brasileiro, sua passagem é bem rápida, e ele é de São Paulo.

“[...] Obrigado por cuidar de nossa criança e trazer it de volta. – Ela inseriu o “it” em inglês porque, nessa língua, tratava-se de uma palavra verdadeiramente neutra. O espanhol não tinha uma palavra que a traduzisse com exatidão. Falantes de língua espanhola em geral lidavam com o gênero ooloi ignorando-o. Quando precisavam usar alguma coisa, empregavam masculino ou feminino, o que lhes parecesse adequado” (Butler, 2021, p.186-187).

Outro assunto muito caro que Butler abordou foi o suicídio, não foi tão explorado, mas citado de forma responsável na obra, existiu a alusão a uma eutanásia também, algo que vai de encontro a filosofia de vida dos Oankalis, pois estes preservam a vida acima de tudo e são contra a morte, esse aspecto não foi o centro da obra em si, percebi que ela foi bem sutil no modo de lidar com esse assunto principalmente por ser uma obra que seu maior público leitor é de adolescentes e jovens. 

E mais uma vez nesse volume Butler voltou a tocar em um assunto bem custoso para nossa sociedade, o fato desta ser hierárquica, algo que não ocorre na sociedade Oankoli, e que é sempre um dos predeterminantes para a auto destruição da própria humanidade, viver em uma sociedade hierárquica requer manter preconceitos e é contra isso que lutamos todos os dias e que Butler apontou de forma brilhante nessa trilogia para possibilitar aos leitores uma reflexão.

Termino mais uma trilogia muito feliz e ansiosa para ler a trilogia Padronista da Octavia Butler. Recomendo demais que leiam a trilogia Xenogênese e poderão refletir sobre assuntos como cultura, multiculturalismo, interação social, gênero, sexualidade, inclusão, preconceitos e muito mais.

 

 

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