Eu Quero Mais


“Aos dezenove anos, Elizabeth sai do interior do RJ e vai para São Paulo concluir a faculdade. Na faculdade de jornalismo, ela conhece Breno, alguém que se torna uma boa companhia com o passar dos meses e a cada vez que ela sorri com as surpresas de São Paulo e seu mundo de possibilidades, Breno, sorri de volta como se quisesse apresentá-la cada pedacinho desse mundo.” (enredo do livro)

Um belo dia recebo uma mensagem da escritora Tayana Alvez propondo parceria, lendo a mensagem fiquei super sem saber quem era esta pessoa, nunca tinha ouvido falar dela no meio da literatura negra, mas como adoro conhecer escritoras novas topei a parceria e até então fico contente por ter aceito a proposta.

Tayana Alvez descobriu não faz muito tempo que é uma mulher negra, negra de pele clara, filha de um relacionamento inter-racial, algo muito parecido com a minha vivência, a diferença é que já tinha noção da minha negritude faz um bom tempo. Esse é um fato muito importante pra quem já está acostumada com a literatura negra saber antes de começar a leitura, você vai se deparar com uma história fantástica escrita por uma mulher negra de pele clara em processo de construção da sua negritude.

 De início fiquei receosa com a leitura, fiquei pensando que se não gostasse do livro o que falaria na resenha rsrsr mas aconteceu o inverso, me surpreendi com a história, com o modo que a escritora conduz as leitoras apresentando cada personagem e como a sua escrita atravessa as nossas memórias revisitando vivências, só posso dizer que Eu Quero Mais foi pra mim um livro surpresa.

Elizabeth é uma jovem que decidi ir para São Paulo concluir sua graduação lá, uma jovem negra com ‘traços finos’, que mantinha um ‘’’ relacionamento’’’ com um rapaz branco e ao chegar em SP se encanta ou melhor é atraída por outro rapaz branco, não pretendo falar sobre relacionamentos inter-raciais até porque este não é o foco do livro, mas observar quem estamos amando se faz necessário para talvez começarmos a entender a grande problemática que é a solidão da mulher negra.

No entanto, faço um grande alerta sobre o fato da solidão da mulher negra não ser somente a relações afetivas amorosas, e aqui Tayana Alvez soube escrever brilhantemente, nós mulheres negras conhecemos a solidão em diversas áreas da nossa vida, desde muito cedo somos a garota sem amigas (os), sem opção de escolha, sem amores, aprendemos a nos virar sozinhas e a nunca depender de alguém.

“Tudo o que a Elizabeth de doze anos queria era uma amiga mulher, mas adivinha só, ninguém queria brincar com a menina pretinha” (trecho do livro)

Elizabeth é uma jovem de nível socioeconômico muito bom, isso já a coloca em um lugar onde a maioria será de pessoas brancas, e aqui lembro de uma provocação que sempre é feita quando questionamos sobre as redes de afeto que temos criado “quantos amigos pretos tem no seu rolê?”, na história Lizza acaba sendo a única menina negra no grupo de amigos, uma das poucas no curso de jornalismo, sempre aquela exceção a regra, sempre aquela minoria mesmo sendo a maioria da população, sempre aquela cota em espaços dominados pela branquitude.

Em um dos momentos não tão importantes pra história, mas especial pra mim foi quando na festa junina Lizza conversa com um dos formando que é um rapaz negro e ele relata que não interessa o quanto você tem na carteira ou na conta bancária, você sempre será uma pessoa negra em qualquer espaço que frequente, isso é muito impotente para compreendermos que a luta de classe é necessária, porem se não for feita de forma interseccional não trará soluções para a população negra, e quando nos referimos as mulheres negras ou falamos de uma luta interseccional que abranja Raça, Classe e Gênero ou não estaremos fazendo algo para e pelas as mulheres negras.

“Vou te falar só mais uma coisa e vê se não esquece: um branco privilegiado, é uma pessoa privilegiada, um negro privilegiado, ainda é um negro” (trecho do livro)

Lizza acaba passando por muitas, muitas e muitas coisas com o seu namorado Breno, essa parte vou deixar pra que você leia na própria história rsrsrs de como fica esse relacionamento, como Joaquim aparece nesse romance, como fica toda essa situação e o desfecho, realmente vou deixar para que vocês mesmos leiam rsrsrs

Por fim outo momento marcante foi quando na história resgataram a importância do brasão da família e ali Lizza pode reconhecer o legado das ancestrais e de como o caminhar e a luta delas oportuniza a nossa produção de identidade hoje. A cantora Gabz com Baco Exu do Blues cantam que “Nós somos os sonhos dos nossos ancestrais” acredito muito que somos a liberdade que pouco tempo atrás não era possível, somos a afirmação negra que ora teve que se esconder para conseguir sobreviver, somos tudo o que quisermos ser e isso Lizze conseguiu compreender por meio de suas vivências e de sua história familiar.

O livro Eu Quero Mais é vendido na Amazon e eu super recomendo 😘





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