Uma Leitora Negra: Uma Experiência Literária De Disputa Epistemológica No Ambiente Virtual


Apresentei esse trabalho ano passado (2019) no VII Congresso Baiano De Pesquisadorxs Negrxs – VII CBPN que ocorreu na UFBA. 

UMA LEITORA NEGRA: UMA EXPERIÊNCIA LITERÁRIA DE DISPUTA EPISTEMOLÓGICA NO AMBIENTE VIRTUAL
Lais Alves Porto (Instituto Guanabara)

Resumo: A literatura negra sempre esteve a margem da literatura canônica, contudo jamais aceitou tal situação, ainda hoje mostra-se insubmissa, reivindicando o seu papel para a construção e valorização de uma identidade cultural do povo negro. Os Blogs sempre foram utilizados por escritores que não estão no centro do mercado editorial para a divulgação de suas obras. Outro modo da produção literária estar presente no ambiente virtual é por meio dos Digital Influencers e Blogueiros. O objetivo desse trabalho é descrever teoricamente a percepção da experiência de uma mulher negra que utiliza as redes e mídias sociais por meio da página intitulada - Uma Leitora Negra, para falar sobre literatura negra. Este espaço virtual possibilita a produção de debates ao que se refere o cânone literário e oportuniza o compartilhamento de conteúdos da literatura negra, em especifico a literatura negra Baiana, favorecendo a emancipação de leitores negros.
Palavras-chave: Literatura Negra. Rede Social. Aquilombamento.

Com o refinamento e avanço tecnológico surge novas “profissões” que em sua grande maioria fazem uso exclusivo das redes sociais e/ou mídias sociais, como por exemplo, a função de Digital Influencer, essas pessoas fazem campanhas publicitárias e são peças fundamentais para popularizar alguma tendência. Já a função de Blogueira refere-se a pessoas que publicam em blog, não são necessariamente formadores de opiniões e nem precisam ter tantos seguidores quanto os Digital Influencers.
Percebemos que na internet existe uma liberdade que não se encontra em outros meios de comunicação, a exemplo da televisão, porém é notório que o mesmo padrão de ideal de vida que existe na sociedade predomina no ambiente virtual, a maioria dos Digital Influencers são pessoas brancas, que se assumem enquanto heterossexual.  Isso demonstra que a internet também acaba sendo um espaço de disputa no que se refere a representatividade e a ideologias (BARRETO, CECCARELLI, LOBO, 2017).
A produção da literatura já esteve presente em diversos espaços, antigamente eram publicados em folhetins nos jornais, desde o século XIX está no formato de livros, de lá para cá popularizou com o crescimento das livrarias, atualmente se apresenta em um formato eletrônico, sem necessariamente ter a presença do livro físico, sendo assim, a função de digital influencer ou blogueira de livros tem um papel importante de resgatar o contato dos leitores com o livro físico e também fomentar o uso do livro eletrônico (SOUZA, 2015). 
Na literatura existe o conceito do cânone e existem as literaturas colocadas a margem, como a literatura negra e indígena, ambas literaturas vem de um longo caminhar de insubmissão, não reconhecendo o cânone como imprescindível e se auto colocando como fundamental para a valorização e construção de uma identidade cultural tanto do povo negro quanto indígena.
Os Blogs são bastante utilizado principalmente por escritores que não estão no centro do mercado editorial, ou seja, escritores negros utilizam a internet como uma alternativa para produção e divulgação de suas obras, pois não conseguem espaço na mídia convencional que está restrita principalmente para o escritor homem, branco, heterossexual e sulista. O mesmo ocorre para as pessoas que trabalham na divulgação das obras, os que apresentam maiores números de seguidores e de patrocínio das editoras são blogueiros e digital influencers dentro do padrão normativo.  
Deste modo, o objetivo desse trabalho é descrever teoricamente a percepção da experiência de uma mulher negra que utiliza as redes e mídias sociais - Blog, Facebook e Instagram - por meio da página intitulada - Uma Leitora Negra, para falar sobre literatura negra. Reconhecer que este espaço possibilita a produção de debates e questionamentos no que se refere ao cânone literário e oportuniza o compartilhamento de conteúdos da literatura negra favorecendo a emancipação de leitores negros.
Apesar de existir uma pré determinação biológica para as características de fenótipos do povo negro, no Brasil ainda impera o mito da democracia racial (NASCIMENTO, 2016) que leva a acreditar na existência de uma harmonia social, cultural e política entre negros e não negros, sendo assim, pessoas negras não se reconhecem como negros e não admitem a existência do racismo estrutural nem de suas consequências. 
Abdias Nascimento (2016) já relatava como era improprio falar sobre a democracia racial, o próprio sofreu as consequências por abordar tal assunto:

Devo observar de saída que este assunto de “democracia racial” está dotado, para o oficialismo brasileiro, das características intocáveis de verdadeiro tabu. Estamos tratando com uma questão fechada, terreno proibido sumamente perigoso. Ai daqueles que desfaziam as leis deste segredo! Pobres dos temerários que que ousarem trazer o tema a reflexão ou mesmo à análise científica! Estarão chamando a atenção para uma realidade social que deve permanecer escondida, oculta (NASCIMENTO, 2016, 52-53).

As pessoas negras que reconhecem que estão em diáspora em sua grande maioria estão presentes em movimentos sociais ou exclusivamente em suas lutas diárias pautando para que outros negros possam ter suas memórias despertas e assim se reconectarem com o vínculo cortado com a África e toda a ancestralidade. 
Lélia Gonzalez (1980) discorre sobre a diferença entre consciência e memória:

Como consciência a gente entende o lugar do desconhecimento, do encobrimento, da alienação, do esquecimento e até do saber. É por aí que o discurso ideológico se faz presente. Já a memória, a gente considera como o não-saber que conhece, esse lugar de inscrições que restituem uma história que não foi escrita, o lugar da emergência da verdade, dessa verdade que se estrutura como ficção. Consciência exclui o que a memória inclui (GONZALEZ, 1980, 226).

A consciência ainda que em estado de alerta pode excluir conhecimentos que favorecem o despertar das memórias, as memórias se apresentam tanto em marcas psíquicas quanto corpóreas e lutam para emergir do seu estado de submissão.
As escritoras Cássia Valle e Luciana Palmeira (2018) apresentam no livro Bloquinho de Poemas e Canções das Calu uma charada que tramite para o público infantil por meio do lirismo poético a importância da memória para a formação da identidade cultural.

O que é O que é

Tem forma e tem cor
Tem risco. Tem rabisco
Tem claro e tem escuro
Tem moldura e assinatura
E não é uma gravura
Não é um quadro
E também não é uma escultura
O que é, o que é?
É a MEMÓRIA e TRAÇOS DA NOSSA CULTURA

Desta maneira, a blogueira negra que compartilha suas experiências durante o processo de despertar das memórias por intermédio da literatura negra também contribui para que outros leitores tenham a oportunidade de participar deste processo e assim ter as suas memórias despertas para talvez serem multiplicadores influenciando outras pessoas negras para estarem atuantes no movimento de aquilombamento e ligação com a ancestralidade.
Estar na posição de blogueira negra falando sobre literatura negra possibilita a promoção de conexões virtuais como uma estratégia de organização dentro do meio literário para que os escritores negros possam ser reconhecidos e valorizados e também para que os leitores negros encontrem nos escritores negros seus referenciais teóricos. Este trabalho virtual auxilia o combate das desigualdades raciais, no que se refere ao compartilhamento dos verdadeiros conhecimentos sobre a população negra.  
O mercado editorial é restrito e elitista concedendo vantagens somente para a produção canônica, fazendo com que autores negros enfrentem muito mais obstáculos, apresentam o racismo institucional que não oportuniza as publicações ou a não aceitação da literatura negra como um produto intelectual. A exemplo temos a escritora Carolina Maria de Jesus que até hoje tem seus escritos contestados ao não reconhecerem como literatura, tais questionamentos parte sempre da branquitude para não aceitar que as minorias acessem os seus espaços de poder.
Tem existido um crescente número de pessoas negra se reconhecendo como escritores, apesar disto percebe-se que para o mercado editorial estes continuam invisíveis. Deste modo tais escritores procuram outras formas de publicação e divulgação de suas obras. Algumas editoras e livrarias criadas por pessoas negras priorizam a produção e venda de obras de escritores negros, este é um belo exemplo de como o aquilombamento pode salvar os nossos, já que o circuito do mercado editorial não publica a literatura negra, nós mesmos publicamos, vendemos e consumimos estas obras negras.
A literatura negra não é somente um tipo de literatura, não é um nicho literário, são várias literaturas. Nós povo negro somos muitos, somos diversos, com a nossa literatura não seria diferente, ela nos reflete e traduz toda a nossa diversidade de viver, se posicionar, e lutar. Conceição Evaristo (2017) é a escritora que trouxe à tona o conceito de ‘Escrevivência’, no qual em toda sua obra literária e produção cientifica apresenta as narrativas do povo negro em toda sua pluralidade. 
Outro aspecto que precisa ser ressaltado sobre a literatura negra é que além de oferecer protagonismo nas histórias ao negro, ela é a própria narrativa da negritude. Na literatura canônica o negro não tem voz, suas histórias são contadas pela branquitude e esta faz manipulações para que o negro fique em estado de submissão, já a literatura negra se contrapõe e insurge ao produzir narrativas negras autorais, como a antropóloga Lélia Gonzalez (1988) mencionou ao dizer que “o lixo vai falar e numa boa”, ou seja, escritores negros vão falar e do seu local de fala e pertencimento.
Collins (2016) em seu trabalho apresenta duas definições essenciais para o posicionamento da mulher negra com suas memorias despertas, são: autodefinição e autoavaliação, a análise destas definições faz compreender que para as escritoras negras estar neste local de fala e de produção de narrativas é ainda mais exigente, precisando ultrapassar mais barreiras que até mesmo o homem escritor negro.

Autodefinição envolve desafiar o processo de validação do conhecimento político que resultou em imagens estereotipadas externamente definidas da condição feminina afro-americana. Em contrapartida, a autoavaliação enfatiza o conteúdo específico das autodefinições das mulheres negras, substituindo imagens externamente definidas com imagens autênticas de mulheres negras (Collins, 2016, 102).

A literatura negra além de nos possibilitar o reconhecimento como seres humanos ela atua como uma arma para a sobrevivência do povo negro, nela encontram relatos desde o período escravocrata até o momento atual no qual ainda falamos sobre o genocídio do povo negro. Antônio Gonçalves Teixeira e Souza e Maria Firmina dos Reis são considerados os pioneiros na produção literária da literatura negra no Brasil (ERNESTO, 2018).  Desde então, tem-se publicado romances, contos, crônicas e poesias, sejam em livros individuais ou em antologias ou coletâneas.
As antologias e coletâneas são exemplos de como a união de pessoas negras conseguem impulsionar o alcance da produção dos próprios negros. Uma antologia literária referência dentro da literatura negra é o Cadernos Negros, atualmente produzido pela Quilombhoje, o primeiro volume foi lançado em 1978 e até hoje já publicou 41 volumes oportunizando visibilidade para escritores e escritoras negras de todo o Brasil (COSTA, 2019).
Cadernos Negros foi o movimento organizado por pessoas negras que despertou e possibilitou a produção de escritores negros, desde então são o principal alicerce de toda a literatura negra. Esta antologia ora publica um livro contendo contos, ora contendo poesias, revezando de ano em ano chegando ao volume 41 superando todo pessimismo e demonstrando que a literatura negra se renova sempre (COSTA, 2019). 
Especificamente em Salvador (Bahia) tem-se a produção literária de 3 antologias que priorizam a publicação de escritores negros, sendo a maioria dos escritores iniciantes na arte da escrita e na luta pela sobrevivência no mercado editorial. São eles: O Diferencial da Favela: poesia e contos de quebrada produzido pelo Sarau da Onça, Poéticas Periféricas: novas vozes da poesia soteropolitana produzido pela editora Galinha Pulando e o Enegrescência produzido pelo Sarau Enegrescência.
Por estar na cidade de Salvador no estado da Bahia, existe um maior acesso as obras produzidas localmente, seja pelos saraus, slam, ou pelos encontros literários, por isso a divulgação das obras de escritores negros baianos é maior. Também pelo fato de perceber que dentro da literatura negra existe a predominância de divulgação dos escritores do eixo Rio de Janeiro – São Paulo, deixando a margem a produção literária produzida nas outras regiões, a exemplo do Nordeste e Norte.
Isso faz com que como blogueira negra soteropolitana exista um maior cuidado para as divulgações das produções locais, para que estas produções e escritores não fiquem restritos somente na própria cidade de Salvador, mas que sejam conhecidos nacionalmente assim como os escritores que pertencem ao eixo RJ-SP e as outras cidades das regiões Sudeste e Centro-Oeste.
É reconhecível que a maior interação nas redes sociais da página Uma Leitora Negra é de seguidores que moram em Salvador que buscam o conhecimento e acesso as produções locais, muitos não têm conhecimento do que é organizado na própria cidade, outros já participam de eventos literários, também tem uma grande quantidade de escritores e escritoras soteropolitanas e de outras cidades que fazem parte da rede de afeto que foi oportunizada pela página.
Estes escritores em sua grande maioria não se via sendo divulgados por blogueiros, ou digital influencers. Aqui na Bahia tem dois projetos que já vem em um caminhar de valorização das escritoras negra, são eles: Escritoras Negras Baianas e o Lendo Mulheres Negras. Reconhecendo que as mulheres negras estão na base da sociedade estas estão em maior invisibilidade que o escritor negro, contudo ambos sofrem com o mercado editorial racista.
O projeto Escritoras Negra Baianas (MERCÊS, 2019) tem como objetivo registrar a memória e catalogar as escritoras baianas negras da contemporaneidade, e o projeto Lendo Mulheres Negras[1] realizam encontros mensais para o diálogo de livros escritos por mulheres negras sejam nacionais ou internacionais, porém estas dão uma maior visibilidade para escritoras negras baianas. 
A página Uma Leitora Negra busca dar visibilidade aos escritores negros que hoje em dia estão em esquecimento, além de valorizar os escritores ainda em vida. Sedo assim, na página são divulgados escritores e escritoras negras, realizadas resenhas críticas das obras lidas, compartilhamento de poesias, trechos de livros e os referenciais teóricos. O foco da página é a literatura, porém a produção acadêmica ou cientifica também tem seu espaço de importância na página.
A principal atividade da página são as resenhas críticas, no ano de 2018 foram realizadas 39 resenhas, 5 de livros infantis, 13 de escritoras negras brasileiras, 3 de escritores negros brasileiros, 5 de escritores estrangeiros, 3 de coletânea poética e 11 dos volumes dos cadernos negros. Este ano, já foram realizadas 9 resenhas, 5 de escritoras negras brasileiras, 3 de escritoras estrangeiras e 1 de literatura negra infantil. A maioria destes livros foram retirados em modalidade de empréstimo na Biblioteca Pública do Estado da Bahia, alguns foram doados pelos próprios escritores, ou emprestados por amigos que apoiam o projeto do blog.
Atualmente a página tem 1 anos de vida e já colhe os frutos do que tem sido plantado, escritoras e escritores enviam suas obras para que sejam feitas resenhas, os próprios escritores divulgam a página e também tem situações de editoras enviar livros de escritoras negras para que seja feita publicações. Isso demonstra que existe um interesse e busca por este trabalho que pouco se encontra nas mídias sociais, o trabalho de falar especificamente da literatura negra.
Como o Instagram é uma rede social muito mais visual por valorizar as imagens, faz com quem a interação com os usuários seja maior, durante esse período de 1 ano existiu muitas trocas com as usuárias, muito aprendizado e compartilhamento de informações. Uma situação que mais despertou a alegria foi quando em 4 de fevereiro de 2019 foi publicado uma imagem do escritor Aloísio Resende e na descrição falava sobre a vida e obra deste escritor. Uma seguidora fez o seguinte comentário na publicação:
“Sou de Feira de Santana, morei por 29 anos na rua de nome Aloísio Resende, sem nunca me dar conta da história por trás do nome da minha rua. Também sou escritora, negra e como Aloísio, luto para que meu legado seja minimamente respeitado. Obrigada à página por me trazer a luz tal resgate que se entrelaça lindamente com minha história de vida.
Outro episódio que a facilidade do Instagram proporcionou foi o de uma editora independente entrar em contato com a página Uma Leitora Negra para poder enviar o livro de uma escritora negra Nigeriana, um trecho da mensagem foi: “Estamos buscando pessoas, entidades e veículos, principalmente do cenário literário negro e feminista, para enviar exemplares”. Isso demonstra que o posicionamento antirracista e de feminismo negro vem sendo compreendido pelos seguidores e tem levado pessoas e editoras a buscar a página e o conteúdo produzido.
Já referente as produções das resenhas literárias, ao publicar a resenha do livro Sobre o Breve Voo da Borboleta e Suas Esquinas da escritora Vânia Melo, o escritor Marcos Cajé fez o seguinte comentário “Letras. Palavras. Folhas. Canetas. Tempo. São conjuntos de liberdade de saberes e fazeres, Suas resenhas são expressões de resistência para com a vida e com imaginários! Essa mesmo está linear! Plural! Suas observações mesclado os poemas está um brio. Parabéns. Acabei de ler, parabéns mesmo, muito bom texto”.
Em outra rede social intitulada – Skoob, onde também são publicadas as resenhas, além do Blog, na resenha do livro Becos da Memória da escritora Conceição Evaristo uma seguidora comentou: “Nossa, que linda resenha. Eu estava na dúvida se comprava mas vc me fez decidir!! Obrigada por isso.”
Esses são exemplos que demonstram como a página está contribuindo para uma afirmação e construção da identidade cultural dos leitores negros e também demonstra como as redes sociais podem ser utilizados para o auxílio do processo de emancipação de pessoas negras por meio da literatura negra.
A ciberecultura ou ciberativismo parte da premissa de compartilhamento de informações para auxiliar na emancipação dos seguidores, assim o ponto chave para a continuidade desta prática é a cooperação, no qual interage com a sociedade impactando com assuntos pouco explorados na mídia convencional (Oliveira, 2016). Sendo assim, um blog que se propõe a falar sobre literatura negra está na constante luta pela valorização e reconhecimento desta produção intelectual negra.
Todo esse trabalho de falar sobre a literatura negra, se deve a compreensão de que é preciso estar em luta na disputa pela criação de uma identidade cultural para o povo negro. A branquitude determina o que deve ser o padrão e o que deve estar fora deste padrão, o que for produzido por pessoas negras consequentemente está fora do que é aceitável e belo, por isso valorizar e engrandecer as produções negras se faz necessária.
Abdias Nascimento (2016) discorre sobre essa relação de poder:

Além dos órgãos do poder – o governo, as leis, o capital, as forças armadas, a polícia – as classes dominantes brancas têm à sua disposição poderosos implementos de controle social e cultural: o sistema educativo, as várias formas de comunicação de massas – a imprensa, o rádio, a televisão – a produção literária. Todos esses instrumentos estão a serviço dos interesses das classes no poder e são usados para destruir o negro como pessoa e como criador e condutor de uma cultura própria (NASCIMENTO, 2016, 112).

Com este ensinamento fica bastante enegrecido da necessidade de pessoa negras que possuem as memórias despertas, que tem acesso a uma produção cultural e também a internet fazer algo que contribua para o resgate cultural do povo negro e assim possibilitar a formação de um processo de aquilombamento de pessoas negras que reivindiquem a sua ancestralidade para si, seja culturalmente, politicamente ou em sua vida diária.
Por ter acesso a estes lugares, eu, mulher negra e militante, não poderia ficar sem fazer nada, sendo assim surgiu a ideia da construção da página Uma Leitora Negra que vem contribuindo para a amplificação da literatura negra, em especifico a literatura negra Baiana, e consequentemente para a formação de processos de resgates e aquilombamento.

Referências:

BARRETO, Robenilson; CECCARELLI, Paulo; LOBO, Warlington. O Negro e a mídia: novas possibilidades de referências identificatórias nas redes sociais. In: Conversas transversalizantes entre psicologia política, social-comunitária e institucional com os campos da educação, saúde e direitos. v7. Org: Flávia Cristina Silveira Lemos. Curitiba: CRV. 2017.

COLLINS, Patricia Hill. Aprendendo com a outsider within: a significação sociológica do pensamento feminista negro. Revista Sociedade e Estado. V 31. N 1. Janeiro/Abril 2016.

COSTA, Aline. Uma história que está apenas começando, Quilombhoje, Disponível em:< https://issuu.com/mbantu/docs/historicotresdecadas> Acesso em: 6 de maio de 2019.

EVARISTO, Conceição. Becos da memória. Rio de Janeiro. Pallas. 2017.

ERNESTO, Luciene Marcelino. Sankofia: breves histórias sobre afrofuturismo. Rio de Janeiro. 2018.

GONZALEZ, Lélia. Racismo e sexismo na cultura brasileira. In: Encontro Anual da Associação Nacional de Pós Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais. IV. 1980, Rio de Janeiro. p. 223-245.

MERCÊS, Calila. Escritoras negras, Disponível em:< https://escritorasnegras.com.br/> Aceso em: 6 de maio de 2019.

NASCIMENTO, Abdias. O genocídio do negro brasileiro: processo de um racismo mascarado. 3. Ed. São Paulo: Perspectivas. 2016.

OLIVEIRA, Laila Thaíse Batista de. Narrativas em rede: o feminismo negro nas redes sociais. In: I Seminário Nacional de Sociologia da UFS. 2016. Sergipe. Anais... p.810-823.
SOUZA, Abigail Nascimento de.  Circuitos alternativos da literatura negra: dos cadernos negros ao blog ogum’s toques negros. 2015. 63f. Dissertação (TCC). Departamento de ciências humana. Jacobina. Bahia.

VALLE, Cássia; PALMEIRA, Luciana; DANTAS, Cell. Bloquinho de poemas e canções da Calu. Rio de Janeiro. Malê. 2018.




[1] Lendo Mulheres Negras é um projeto desenvolvido desde 2016 por mulheres negras na cidade de Salvador. Maiores informações podem ser encontradas nos seguintes sites: https://www.facebook.com/lendomulheresnegras/?epa=SEARCH_BOX e https://www.instagram.com/lendomulheresnegras/

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