O bebê é meu

 

Escrever uma história que se passa durante o período pandêmico é de uma conragem enorme. Quando recebi o livro fiquei me perguntando porque ela escolheu falar sobre esse omento tão latente para todos nós? Aqui compartilho sobre o cuidado que a editora teve ao entrar em contato perguntando se aceitaria receber o livro, pois a história se tratava sobre esse tema emblemático. Confesso que dói saber que a maioria das mortes foram de pessoas negras, dói ver o movimento antivacina crescendo cada vez mais e em especial no seio da população negra, dói estar no Brasil com um genocida no poder, porém acredito muito na literatura negra, acredito no poder de escrita da mulher negra e aceitei o livro de coração aberto.

Sabe esses livros fininhos que carregam uma história imensa?! Pois bem, O bebê é meu é exatamente assim, um livro pequeno, fininho, mas que carrega um peso enorme em cada palavra, carrega a imensidão dos seus personagens, Tia Bidemi, Esohe e Bambi nos apresentam suas personalidades, suas histórias, suas escolhas e suas dores.  

No centro da história temos um bebê, a cada página vamos tentando entender como foi que tudo aconteceu e como ele ficará, ou melhor com quem o bebê ficará. Bidemi e Esohe reivindicam a maternidade e Bambi que ficou preso a essa situação devido ao lockdown da pandemia se vê sem saber quem realmente é a mãe do bebê.

Esse fato me fez lembrar de uma parte da história de Salomão quando duas mulheres vão até ele e essas se dizem mãe do bebê, e usando da sabedoria (Salomão na história bíblica é conhecido por sua sabedoria) ele cria um dilema, manda dividir o bebe ao meio e dar uma parte para cada, uma das mulheres grita e diz que o bebe pode ficar com a outra, assim Salomão descobre quem é a verdadeira mãe do bebê.

O pai do bebê já se encontra falecido nesse momento da história e todo esse dilema acontece exatamente por isso. Esohe era amante do tio Folu, que era esposo de tia Bidemi. Bidemi nunca conseguiu ter um filho, e vendo a amante do seu marido grávida e ele falecido acabou a abrigando na sua casa. Porém, imagina como foi para essa mulher suportar tudo isso, marido falecido, uma amante grávida e ela se poder gerar um filho, não sei você, mas eu sentia uma compaixão enorme por tia Bidemi durante toda a história.

Também podemos ver pela perspectiva de Esohe que ficou sem o pai do seu filho e sem ter para onde ir no meio de uma pandemia. Não vemos na escrita de Braithwaite recriminação ou acusação por Esohe ser a amante, vemos uma escrita que foge dessa dicotômica visão ocidental de que existem pessoas boas ou más, de atitudes corretas e incorretas. Também senti compaixão por Esohe, o único que não senti compaixão alguma foi Bambi.

É um personagem centrando em sua complexidade, um mulherengo sem responsabilidades, um típico homem hetero cis, bem padrão mesmo, tirando o fato de ser um homem negro, fora isso ele continua sendo um homem cercado por toda sua masculinidade. Contudo essa inusitada situação o faz mudar, atrai responsabilidades que nem ele mesmo sabia que podia lidar.

Durante a história vamos descobrindo aos poucos a verdade e isso é magistral na escrita de Braithwaite, como ela nos deixa pressa até o fim para saber de tudo. Sabe novela que o capitulo acaba sempre na melhor parte, assim ficamos a cada capitulo até chegar ao fim que nos surpreende, realmente não esperava que fosse dessa forma, mas foi como deveria ser.

Braithwaite nos apresentou uma boa obra que certamente no futuro poderemos recorrer para quando quisermos citar sobre esse momento histórico que estamos vivendo.

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