Preta Potência


O livro Preta Potência foi uma grata surpresa, quando o livro chegou deixei ele lá na fila de leitura, pois pensei que iria ler desses livros de empreendedorismo e que seria bem chato, nossa imagina esses termos de empreendedores que não entendo nada, mas volta e meia eu ficava olhando pro livro, ele me olhava de volta, era como se estivesse me chamando, até que não resisti e comecei a ler, a primeira surpresa foi ver um texto de Analu, pensei Uauu olha Analu aqui, já comecei a gostar do livro nessa parte mesmo rsrs

Então mais uma vez o livro me surpreendeu e Adriana começou a contar sobre a sua história, assim aos poucos fui me conectando com a mulher preta criadora da Feira e vendo que tínhamos tanta coisa em comum, dentre elas é que eu me acabei de rir quando ela menciona que sua avó falava “Lá vem a Adriana com esses filmes de preto de novo”, gente é toda mainha falando quando levo alguma sugestão de filme ou convido pra ir pro cinema, ela já sabe que será filme com atores negros, produção negra ou que aborda esse assunto.

Nos apresentar essa relação familiar, seja a da parte materna, paterna ou a amorosa, fez parecer que estávamos tendo uma conversa de amigas, me senti amiga de longas datas, inclusive tornou humano e acessível a ideia do empreendedorismo, super concordo quando Adriana pontua sobre suas ressalvas com esse termo, eu também não gosto nem um pouco, nem dos termos em inglês, ou esses inícios de carreia de sucesso que começa com um pai dando 10 mil pra abrir uma empresa, isso é tão história de herança, típico da branquitude que não contempla em nada o nosso povo preto.

Outro aspecto que adorei no livro foi a perspectiva histórica, mulheres negras fazem ‘empreendedorismo’ a muito tempo e sempre de modo coletivo, quem não sabe das mulheres negras que se juntavam e assim conseguiam comprar a alforria de outros negros escravizados, pois bem, ou quem não conhece aquela tia do cafezinho do terminal de ônibus ou metrô que consegue sustentar toda a sua família com exatamente esse cafezinho. 

Duas mulheres em especifico que são citadas no livro são Emília Soares do Patrocínio e Rita – “E a Feira é um exercício da cidadania que, um dia, foi negada a ancestrais como Emília e Rita.” trecho do livro – viu leitores, não é um simples livro com termos chatos do empreendedorismo, é um baita livro sobre a nossa própria história preta.

Os vários aspectos abordados no livro acabam refletindo nas nossas vidas, é meio que olhar para um espelho, pois são dores que vem da base estrutural racista, como o fato de sermos ‘tímidas’, será mesmo que somos tímidas ou fomos sempre silenciadas, sem espaço para falar e ser ouvida? Óbvio que existem realmente pessoas negras tímidas, mas essa é uma reclamação recorrente e geral de muitas e muitas pessoas negras.

 

Poderia citar os outros diversos pontos que pensei que Adriana estaria falando de mim mesma, mas trago o último que é o fato de reconhecer que precisamos de ajuda, de ter noção que não precisamos dar conta de tudo sozinha, podemos e devemos compartilhar os pesos da vida, seja indo a uma psicoterapia (busquem psicólogos pretos por favor), no meio espiritual (religioso), ou no ambiente de trabalho (rede de apoio).

Ahh sim teve muito perrengue, muitos obstáculos, muito racismo e machismo para impedir o crescimento e sucesso da Feira, porém assim como a Adriana passamos a entender que a Feira não é somente ela em si, que vai viver muito e é além do domínio de qualquer pessoa, - “E foi exatamente isso que a Bia me disse na primeira vez em que sentamos juntas para responder a uma das perguntas que me agoniava entre 2008 e 2010: devo ou não continuar? Ela me respondeu que a “a Feira tinha ganhado vida própria” e que “já não dependia apenas de mim” - trecho do livro.

Viram como foi uma boa surpresa o livro Preta Potência, super recomendo que ele seja essa surpresa pra vocês também, conheçam mais da Adriana Barbosa e da Feira Preta, começam mais sobre nós, porque já disse Emicida – Tudo que nós tem é nós.

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