As Alegrias da Maternidade
O livro As
Alegrias da Maternidade foi o primeiro livro que li de Buchi Emecheta,
encantada com a leitura segui logo para Cidadã de Segunda Classe e fiquei ainda
mais envolvida pela escrita e histórias contadas por Emecheta. Como já disse
anteriormente o livro Cidadã de Segunda Classe ficou sendo a minha história
preferida dentre estes dois romances.
Com Alegrias da
Maternidade aprendi um novo conceito intitulado Maternagem, um assunto que
nunca tinha pensado antes, eu reconhecia o peso machista sobre a “função” da
mãe, mas não tinha parado para pensar nas estratégias criadas para fugir desta
opressão sexista.
A maternidade
restringe-se ao cuidado somente na díade mãe-filho(a), a maternagem diferentemente
inclui e potencializa a rede criada em diversas relações, outras pessoas também
estão responsabilizadas pelo cuidado do bebê, por exemplo, o pai está inserido,
as avós e avôs, a vizinha, os amigos, ou seja, a maternidade refere-se a
consanguinidade, já a maternagem ao vinculo de afeto.
Buchi Emecheta apresenta
essas duas configurações no livro, faz inúmeras críticas a maternidade, e nos
deixa em dúvida até mesmo sobre a maternagem, ela não demonstra como sendo uma
solução, por ser a escrita de suas próprias vivências e como Emecheta teve uma
vida muito difícil, no livro ela vai se mostrar muito desanimada e inclusive vai ter um
final muito pessimista, porém nós conseguimos compreender toda a sua angustia,
acredito que uma mãe solo negra compreenderia ainda mais as aflições de
Emecheta.
As Alegrias da
Maternidade é um reflexo das vivências de Emecheta, ora desse jeito nós temos
um livro de escrevivências, sim o termo cunhado por Conceição Evaristo, quando
li fiquei pensando nisso o tempo todo, Emecheta fez escrevivência em 1979 e
atualmente temos Conceição nos ensinando sobre algo que escritoras negras já
fazem há muito tempo, não tem como não relacionar e enxergar as conexões dos
negros africanos e da diáspora.
Um aspecto que achei
muito bacana na obra é que Emecheta também apresenta em alguns momentos a perspectiva
dos filhos de Nnu Ego, em certas partes me identifiquei com o conflito de Oshia...
“Bem não demora e
você vai poder se aposentar e entrega a Oshia a responsabilidade de tomar conta
da educação dos irmãos”, exclamou Nwakusor, de olhos reluzentes devido ao
vinho.” (trecho do livro)
Tanto Nnu Ego
quanto Nnaife acreditavam que quando o filho se forma-se ele teria condições
financeiras para sustentara família e assim tirar o peso de custear a educação
dos filhos. No entanto, Oshia não consegue realizar este desejo, ele é um
exemplo nítido de como o negro está inserido nesse modelo de educação ocidental
europeu, sempre vamos estar dois passos atrás nessa caminhada e quando pensamos
que chegamos vemos que ainda falta muito a se caminhar, quem não lembra dessa
fala no filme Estrelas Além do Tempo “Sempre que temos uma chance de avançar,
eles mudam a linha de chegada” ?!
Pois é, eu me
identifiquei com Oshia porque sempre existiu essa esperança de que se eu me
formasse em uma universidade pública muita coisa poderia mudar, então me formei
em fonoaudiologia na Universidade do Estado da Bahia (UNEB) e praticamente nada
mudou, continua existindo as situações racistas no ambiente de trabalho,
continua as cobranças para permanecer estudando, nessas horas compreendo como
Oshia se sentia, conto isso porque podemos ler a história e julgar as atitudes
dele, mas se olharmos com atenção podemos verificar que ele só reflete o que já
vivemos.
Emecheta na obra
também apresenta outros debates importantíssimos, como por exemplo a
obrigatoriedade que foi para Nnaife servir ao exército Britânico, como a cultura seja no quesito de
ensino quanto de religião modificou e afetou culturas africanas principalmente os
que se deslocaram para a região da cidade em busca de melhores condições, como
existe esse choque e a resistência para manter viva a própria cultura africana.
Assim como na
resenha do livro Cidadã de Segunda Classe vou destacar só alguns pontos, não vou
falar sobre tudo, até porque Emecheta fala de muita coisa que daria para
escrever outro livro só destrincando cada assunto abordado rsrsrs
No Instagram fiz
uma publicação que falei sobre a Nigéria, sua conformação política e territorial e como
podemos conhecer mais sobre este país nas obras de escritoras nigerianas como
Buchi Emecheta e Chimamanda, é importante este tipo de movimento para
ressignificar a ausência de conhecimentos sobre o continente africano na nossa
educação escolar e na produção da mídia televisiva, conseguimos acesso a
informações reais de países africanos nas mídias alternativas e nos livros que
hoje em dia estão sendo muito mais
traduzidos e pulicados pelas editoras.
Esse ano teremos
mais duas obras lançadas de Buchi Emecheta pela editora Dublinense, ficaremos
no aguardo de todas as suas outras obras porque meus caros leitore,s Emecheta
escreveu muito e precisamos ler e aprender com cada livro.
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