Gabyanna Negra & Gorda
Estou apaixonada
pelo livro Gabyanna desde o dia que a escritora Gabriela Rocha disse que me
enviaria, quando chegou foi amor à primeira vista, a capa é de uma lindeza que
só, ao abrir nos deparamos com uma citação de Viola Davis é pra matar a gente não
?! rsrs depois nos é apresentado uma história fantástica, posso dizer que
literalmente temos o humor negro.
Atualmente quem tá
lendo o livro é mainha, não titubeei em dar o livro pra ela ler, tenho me divertido
horrores com os comentários dela, são risadas atrás de risadas, mainha vai até
mim e diz alguma coisa do livro como se eu não tivesse lido e eu preciso fazer
minha cara de surpresa rsrs essa semana ela falou “Essa Gabyanna é safadinha,
mas assim ela é bem estudada e tá lá fora”, nessa hora fiquei pensando que se
Gabyanna não fosse bem estudada, ou não tivesse lá fora a liberdade sexual que
ela tem não seria aceita???
Parece que as
cosias para nós mulheres negras vem sempre com determinadas condições, se você
aceitar isso consequentemente você vai excluir isso, sempre um jogo de ganha
isso, mas perde aquilo, você pode ser bem sucedida, mas não será feliz no amor,
ou você pode ser feliz no amor, mas não será bem sucedida, por vezes aceitamos que
são coisas da vida mesmo, ora como diz o ditado Sorte no jogo, Azar no amor, mas
aí eu paro mais uma vez e penso, então porque tem mulheres que conseguem os
dois? Tem mulheres que são felizes no amor e bem sucedidas? E na sua maioria
são mulheres brancas, elas conseguem ter os dois e porque nós negras só podemos
ter um ou não ter nenhum dos dois??
Gabyanna traz toda
essa grande reflexão no livro, o que me deixou mais encantada é que ela não apresenta
isso logo de cara, ela vai levando a leitora, conduzindo até dizer que conseguiu
ser bem sucedida, ter um bom emprego, viajar pelo mundo, conhecer outras
culturas, mas ainda não conseguiu o seu maior sonho que é casar, ter filhos,
construir uma família e tudo isso porque é uma mulher negra e gorda.
Digo que Gabriela
faz um humor negro porque ela apresenta de forma bem leve, engraçada, mas não
perde de foco seu principal objetivo que é o de escrever sobre a solidão da
mulher negra e gorda. Lembro que quando criança passei por inúmeras humilhações
por ser gorda, na época não sabia que era gordofobia, e pior que essas violências
aconteciam muito mais comigo do que com a colega que também era gorda, mas era
branca, tudo isso me levou a fazer inúmeras dietas muito loucas, deixei de
comer pão, deixei de me pesar, até hoje não subo em balança a não ser que o médico
mande pra saber o peso e preencher a bendita ficha de anamnese.
Isso me levou a
ter uma consciência desde pequena de que certas coisas aconteciam comigo por que
era negra, gorda e de cabelo crespo, então decidi alisar o cabelo porque realmente
acreditava que poderia mudar algo, já que as dietas não estavam funcionando,
mas pra minha grande surpresa nada mudou. Hoje estou magra, devido algumas
questões de saúde e não vivencio mais violências gordofobicas, o livro de
Gabyanna me fez lembrar a todo momento dessa minha infância, além das minhas
tentativas amorosas que sempre deram errado e do relacionamento abusivo que me
permiti permanecer por ter medo de ficar sozinha.
Apesar de toda
leveza e humor, tem uma hora que ficamos tristes por pensar em quantas mulheres
estão passando por isso, algo que parece tão simples - o amor, mas que pra nós mulheres
negras precisa ser travada uma luta enorme, fiquei imaginando quantas querem construir
uma família, ter um lar e não conseguem, no fim da história Gabyanna continua solteira,
mas muito mais madura, e consciente de sua presença no mundo, sem perder a
esperança de que um dia ela poderá ter a sua própria família.
Outra discussão
muito bacana é sobre essa construção familiar. As mulheres querem casar e ter
filhos por uma obrigação dessa sociedade patriarcal ou porque realmente é seu
desejo?? Gabyanna apresenta a consciência de que isso é uma obrigação da sociedade
em cima das mulheres, porém ela também nutre um desejo por essa ideologia
familiar. E nesse ponto eu votei a me colocar na história pensando em como não sinto
desejo algum em casar ou ter filhos, mas não digo o mesmo sobre poder vivenciar
um relacionamento amoro saudável, um não exclui o outro não é mesmo.
Gabriela Rocha faz
isso conta a história de Gabyanna, nos coloca como protagonistas também, nos
leva a refletir dando risada, escancara seu coração, conta seus segredos, nós leitoras
também vamos juntas e confessamos os nossos medos e não sentimos aquele peso de
carregar isso só pra gente, estamos compartilhando nossos receios com alguém que
nos compreende.
Só posso terminar
a resenha dizendo que o livro é de um primor que sempre que posso indico, tanto
pela reflexão que oportuniza, quanto pela acertada escolha da linguagem simples
e leve. Para
conseguir o livro vocês podem entrar em contato com a própria escritora, pra quem
é de Salvador pode entrar em contato com a Kambili Cultura e conseguir o livro.
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