Cadernos Negros 17 Poemas


"Aqui o ofício de escrever assemelha-se a um jogo de capoeira, paciente e atento, plástico e manhosos, onde aparentemente não se quer nada, onde é feito todo o possível para atingir o máximo (orelha do livro)"

Esse é o primeiro livro de Cadernos Negros de Poemas que já li, todos os outros até então eram de contos. Neste volume 17 só tem 5 escritor@s, 3 mulheres e 2 homens, são: Oubi Inaê Kibuko, Miriam Alves, Sônia da Conceição, Jamu Minka e Esmeralda Ribeiro.

O bom de ter poucos escritor@s é que conseguimos conhecer melhor a poesia de cada um em especifico. Por exemplo, Miriam Alves, vi a escritora pessoalmente no evento do Diálogos Insubmissos homenageia Miriam Alves - I Aniversário, desde o momento que ela chegou ele não parou quieta, se movimentava o tempo todo, sendo assim não poderíamos esperar uma poesia parada, nem faria sentido.

A sua poesia passeia por toda a página em que está, com recuos, fazendo escadinha com as palavras, ou formando alguma forma geométrica, contudo, nada disso é à toa, todos os usos e abusos do espaço e da conformação das palavras tem um sentido e Miram Alves consegue transmitir toda a mensagem que deseja.

Tem um de seus poemas que foge a esse modo de ser da sua poesia, mas acredito que também tem o seu sentido, pois o tema do qual se trata não merece ser enfeitado, pois é do luto que se fala, mas nem por isso não deixa de utilizar de forma maestral as palavras:

ABANDONADOS

Eram meninos
Menores
Errantes na terra dos homens
eram meninos menores
agonizantes
sedentos nus
menores
agora ........ não eram
nenhum

Outro escritor que me chamou a atenção foi Oubi Inaê Kibuko, todas as suas poesias falam sobre o amor, o amor para a sua amada preta, ele deixa bem enegrecido em suas poesias que a mulher que ama é negra, ele também fala sobre o desamor, algo que está presente no movimento do que é o amor, quando ocorre o cansaço, a separação, a solidão. Todos esses temas que ele toca, ele consegue falar de uma forma muito profunda e sensível.

ESCOLA

Não é amor....
são lições de companhia, confidências,
cumplicidades na biologia do sentimento.
Prenúncio de gestos,
velejo em histórias,
entrar na física da pele
sem diluir a química do ser.

É aprendizado
desenhar uma geografia
seu belo resplandecer numa conjugação afetiva.
Multiplica o pensamento,
subtrai amorfias visões,
elevando existências num mestrado de emoções....
Não é amor... É aprendizado!

A escritora Sonia Fátima da Conceição também apresenta uma poesia que meche na estrutura certinha da poesia de ser sempre todas as linhas uma embaixo da outra, seus versos sempre percorrem os lados da página dando uma sensação de movimento e é assim que eu vejo a poesia do povo preto, ela está sempre em movimento, movimento de luta, de reconhecimento, de amor, de fazer revolução ao registrar todo o nosso ser e viver negro.

Na folha anterior ao sumário tem um escrito em negrito - 1995: três séculos depois, Palmares ainda vive! Eu acrescento - 2018: estamos combatentes e Palmares resiste!

Peguei esse livro na biblioteca dos barris e agora irei começar a ler todos os volumes de poemas dos cadernos negros que tem disponível na biblioteca central (barris).



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