Sejamos Todos Feministas - O feminismo acessível


Quando o Lendo Mulheres Negras apareceu informando do seu primeiro encontro tratei logo de procurar se tinha o livro em PDF, ao encontrar devorei rapidamente o livro de Chimamanda. Infelizmente não pude participar do encontro por demandas da vida que sempre nos cobra algo a fazer, mas valeu muito a pena a leitura da obra da escritora Nigeriana.

Aqui aproveito para indicar que você escute a adaptação da Música This is America feita pelo rapper nigeriano Falz, o título ficou This is Nigeria, o clipe seguiu a mesma vertente da música original, apenas adaptou aos problemas mais específicos, aos costumes e cultura do país.

Ao assistir o clipe tive a mesma sensação ao ler o livro Sejamos todos feministas, muitos dos nossos problemas são parecidos, temos as especificidades, mas no geral em sua imensa maioria as estratégias de opressão são semelhantes. Podemos então dizer This is Brasil.

Chimamanda começa com o que eu acredito que seja uma bela pitada de humor como percebemos no trecho a seguir:

"Decidi me tornar uma “feminista feliz e africana que não odeia homens, e que gosta de usar batom e salto alto para si mesma, e não para os homens”"

A escritora neste início vai pontuando alguns aspectos que para o senso comum não são aspectos relacionados ao feminismo, percebo que são questões iguais às que temos aqui e que volta e meia feministas explicam que são mitos criados para influenciar negativamente neste movimento e assim não conseguir mais adeptas na construção desta revolução.

Ela continua dando exemplos simples que para uma mulher feminista fica óbvio o peso do machismo, mas que para uma mulher que não é feminista e não conhece este movimento podem ser bem reveladores, repito algo que disse na resenha de Hibisco Roxo, Chimamanda tem essa escrita e linguagem acessível que faz qualquer pessoa entender o que ela quer transmitir.

Pra mim este é um grande feito, algo importantíssimo no nosso meio, algo que venho pontuando há algum tempo, qual linguagem estamos usando para dialogar com as mulheres? Será que estamos apenas conversando com nós mesmas usando nosso linguajar militantês?

Não estamos sendo acessíveis para as mulheres mais velhas que não tem vínculo com a internet. Se questione se a sua mãe é capaz de compreender uma fala sua feita para sua amiga feminista, ela entenderia? Uma mulher que não está no meio acadêmico entenderia? Todas as mulheres entenderiam?

Se suas respostas forem não então você precisa ler urgentemente este livro e aprender com a escritora Chimamanda. Não se preocupe ela é bem compreensiva e com certeza não vai se importar em você estar retrocedendo algumas casas na militância e revendo o seu feminismo que foi sendo corrompido pela branquitude da academia.

Ela pontua uma questão muito importante, a criação dos meninos. Os homens não produzem o machismo apenas na vida adulta, estes desde pequenos aprendem dentro da sociedade patriarcal como deve ser o seu papel de homem e assim produzem abundantemente o machismo. A infância é o principal período de educação no núcleo familiar, percebemos que este momento pode ser crucial para a formação dos meninos que ao se tornarem adultos possam estar em constate desconstrução do machismo.

Sinalizo uma discordância minha ao posicionamento da escritora, pra mim não existe homem feminista, estes jamais deixarão de ser machistas, o que pode acontecer é que estes homens estejam em um processo de auto crítica para conseguir desconstruir conceitos e atitudes.

Ela também explica sobre o seu processo de empoderamento que é comum ao de muitas mulheres, quando começamos a questionar ações cotidianas que antes pareciam comuns serem apenas destinadas as mulheres e não aos homens. Mais uma vez a escritora se aproxima da leitora e diz - olha o nosso processo de empoderamento é igual.

Senti falta no texto dela abordar sobre raça, o tempo todo fala apenas sobre gênero, sim é uma mulher negra falando brilhantemente sobre feminismo, mas não especificou qual feminismo e sobre como a opressão de gênero nas mulheres negras vem junto e misturado com a opressão racial.

Eu, Lais, não consigo pautar feminismo e ele não ser feminismo negro, não consigo falar da opressão patriarcal sem falar do racismo, em mim e acredito que para a maioria das mulheres negras, mas não falo por todas e nem quero isso porque reconheço as especificidades dentro da nossa raça, o machismo vem imbricado do racismo, não conseguimos dissociar estas opressões, sendo assim é necessário colocar cor no feminismo.

Termino com este trecho que achei muito enriquecedor, forte e de uma baita simplicidade:

“Minha bisavó, pelas histórias que ouvi, era feminista. Ela fugiu da casa do sujeito com quem não queria se casar e se casou com o homem que escolheu. Ela resistiu, protestou, falou alto quando se viu privada de espaço e acesso por ser do sexo feminino. Ela não conhecia a palavra “feminista”. Mas nem por isso ela não era uma. Mais mulheres deveriam reivindicar essa palavra”

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Literatura Infantil: 5 escritores negros baianos

Literatura negra erótica

Literatura e referencial teórico em PDF - Escritoras Negras